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A Assembleia da República aprovou a 12 de Junho de 2009, por unanimidade, a elevação da minha terra natal à categoria de vila. Eu, mais por razões afectivas do que propriamente de natividade, há muito que a elevei à condição de “cidade”, conforme facilmente se admitirá pelo nome deste blogue.
Mau grado, nunca ali pude ter o contentamento do exercício do mais merecido direito de cidadania. Fui, como muitos outros seus filhos, compelido a fazê-lo noutros lugares e paragens. Não a malquero por isso, bem pelo contrário. É na renovação e inflação das exigências que lhe vamos colocando, e que vão muito para além da sua bucólica, tranquila e natural beleza paisagística, que devemos encontrar as razões desta incoerente desventura. São as imparidades sociais, ao nível das ambições, desejos, e referências, e não os elementos naturais, desde a fauna e flora, à oro e hidrografia, as falhas que provocam tais idiossincrasias. E se a natividade até pode ter sido ali forçosamente fortuita, a afectividade jamais o poderá ser. Esta é voluntária, é desejada.
Foram mais 21, as povoações que nesta data tiveram tal distinção, das quais destaco, por similitude, a vetusta, fidalga e vizinha, Castro Laboreiro. Nós, Soajeiros e Castrenses, fizemos, por agora, o pleno no distrito de Viana do Castelo. Foi o regresso a um estatuto perdido em 1852, que se espera não volte a repetir. O evento mereceria, por isso, alguma análise e avaliação. Não vou fazê-las por ter pouca informação, de natureza quer material, quer formal quer orgânica, relacionada com o acontecimento. Há, todavia, duas reflexões que não me coíbo de fazer, já que referidas com as imparidades humanas supracitadas. É que independentemente da posse das formalidades, ou exigências, de ordem burocrática necessárias para a obtenção do estatuto ora reatribuído, importará aquilatar da consistência e consequências das mesmas.
Aqui e agora, apreciaria fazer considerações no sentido da tranquilidade e sossego, da satisfação e do júbilo, enfim do orgulho. Infelizmente, parece-me mais sensato optar por alguma prudência e parcimónia, levando em boa conta o que na imprensa se grafa.
Segundo escreve o jornal público:
“Para ser elevada a vila uma localidade tem de ter mais de 3.000 eleitores em aglomerado populacional contínuo e pelo menos metade dos seguintes estabelecimentos: posto médico, farmácia, casa do povo, dos pescadores, de espectáculos, centro cultural ou outras colectividades, agência bancária, transportes públicos colectivos, estação dos correios, estabelecimentos comerciais ou de hotelaria e uma escola pública.”
Transpondo estes preceitos para a nossa realidade Soajeira, sobram-nos motivos para experimentada cautela e redobrada dedicação, como forma de preservação da realidade actual senão da obtenção de mais e melhor para o futuro.
Tomemos os seguintes exemplos:
- centro social de dia, adiado ad eternum;
- correio, em e com situação assaz indefinida;
- escolas, com frequência muito escassa e imprevisível;
- jardins e sanitários públicos, indeterminadamente adiados;
- transportes rodoviários municipais, substantivamente simbólicos;
- diminuição da população residente de forma continuada e acelerada.
- banca, só temos actualmente dois dias por semana, quando já foram cinco;
- banda larga grátis, “hot spots”, pelo menos no Eiró, Escola/Espigueiros e Casa do Povo, só em desejos.
E são apenas alguns exemplos de fragilidades e até de retrocessos, que bastam, para que A NOSSA VILA DE SOAJO não suavize na exigência de continuar a pugnar junto das entidades respectivas e competentes a sua observância. Sob pena deste acontecimento, desta elevação a Vila, se transformar numa ocorrência de pouco valor, senão mesmo vazia.
A categoria administrativa pouco ou nada significará, se não for acompanhada de melhor qualidade de vida para a população em geral, e especialmente para os mais idosos e para os mais jovens.
Aos mais velhos temos o dever de lhes proporcionar a recordação do seu passado, de difícil e árduo trabalho, em amena e digna tranquilidade; e aos mais novos devemos retribuir-lhes o “devaneio” de realizarem por aqui a sua vida, se assim o desejarem, em condições material e socialmente ajustadas.
Aparentemente faz sentido celebrar a efeméride com festa.
Fará também todo o sentido pontuar as alegrias com cautela, análise e avaliação, persistindo determinados e vigilantes na prossecução da conquista de oportunidades que nos conduzam a um futuro melhor e mais consistente, e que impeçam o regresso a um qualquer 1852.
domingo, 28 de junho de 2009
Vila de Soajo
Publicada por leunam-atab à(s) domingo, junho 28, 2009
Etiquetas: soajo terra bonita elevação a vila, vila de soajo
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