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No último post inseri um link para o meu canal de vídeos pessoal e privado alojado no Youtube. É assim que procedo sempre que me entretenho e recreio, pois é disso que se trata, a partilhar sem restrições ou condições os hobbies que construo de forma despretensiosa e amadora.
Essa é a finalidade do canal.
http://www.youtube.com/user/macaba01
Aqui no blog é diferente. O objectivo é publicar, quando possível e oportuno, quer seja de minha autoria quer seja de estranhos, aquilo que me parecer relacionado com a “pátria pequena”. Ou não, se o reputar de merecedor.
Hoje vou publicar algo que não sendo meu, é merecedor e é sobre Soajo.
É um fragmento que faz parte do programa que a RTP produziu nos anos 70 do século vinte sob a designação de “povo que canta”, realizado por Michel Giacometti.
Publico porque considero este documento importante, enquanto revelador e caracterizador das nossas identidade e cultura soajeiras.
Agradeço ao amigo e “vizinho” Fernando M.C. Barros.
povo que canta rtp 1970
"No concelho de Arcos de Valdevez, Alto Minho, o SOAJO - povoação caracteristicamente montanhesa no sopé da serra que tem o seu nome - vive ao ritmo lento do trabalho agrícola e do pastoreio. O pousio é desconhecido e a agricultura praticada em pequenas glebas dispersas pelas encostas. As culturas limitam-se ao milho -de regadio e sequeiro - centeio, batatas, vinho, azeite, cera e mel. Na pastorícia, por "vezeiras", os rebanhos pertencentes a diversos donos são guardados pelo mesmo pastor. O gado é levado para a serre, onde fica até Setembro, o mais tardar princípios de Outubro - altura em que se colhe o milho. No interior da serra - dada a exiguidade das áreas cultivadas em redor da povoação - encontram-se as chamadas "BRANDAS", núcleos de povoamento temporário de carácter agrícola ou pastoril ou misto, constituídos por choupanas e leiras de cultivo, onde o Soajeiro habita apenas na altura das sementeiras e das ceifas.
O Pelourinho, "rude no material e na arte", segundo LEITE DE VASCONCELOS, e cujo simbolismo é diversamente interpretado.
Em volta da eira comum, a presença - hierática - dos espigueiros, mais conhecidos por canastros ou caniços - onde o milho vai a secar antes de ser malhado. Para evitar a subida de roedores, os espigueiros têm a sua armação assente sobre pedras arredondadas ou mós. As fendas verticais destinam-se à ventilação.
Quem pretende utilizar a eira comum para a sua malha, coloca, na véspera do dia, uma vassoura de giesta debaixo de uma pedra, sinal por todos entendido.
Solidários entre si, os Soajeiros são conhecidos na nossa história pela sua independência e espírito de combatividade, de que é exemplo, entre outros, a figura quase lendária do Juiz do Soajo, e sem esquecer a famosa rixa que eles, Soajeiros, há pouco mais de meio século tiveram com gente dos Arcos de Valdevez, onde um dos seus tinha sido maltratado. Combinada a desafronta, juntou-se um numeroso grupo de Soajeiros que, no dia marcado, varreu literalmente a Feira dos Arcos com paus, de que eram temidos jogadores. A quem procurava dissuadi-los, respondiam - "quando saímos do Soajo, já os sinos ficaram a tocar pelos que hão-de morrer".
Os Soajeiros conseguiram do Rei D. Dinis que "não seja permitida demora dos cavaleiros fidalgos naquelas paragens, senão o tempo suficiente que leva a esfriar um pão, exposto ao ar, na ponta de uma lança".
A deliberação tomada por aquele Rei respondia a uma queixa que lhe apresentaram os Soajeiros contra os fidalgos, os quais, "tratando-lhes as filhas e as mulheres pouco decorosamente", foram compelidos a "vender tudo o que ali possuíam e ir morar noutra parte, não sendo nunca mais permitido a qualquer fidalgo ou cavaleiro adquirir bens do dito concelho"."
Autor: Michel Giacometti
colaboração de Alfredo Tropa
"Povo que Canta", RTP_1970
domingo, 22 de novembro de 2009
soajo anos 70
Publicada por leunam-atab à(s) domingo, novembro 22, 2009
Etiquetas: cultura, história, soajo anos 70, tradição, usos e costumes
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
outono
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O Verão há muito que terminou e o tempo quente já lá vai. Vai o calor, vão os amigos e vão as férias quase sempre a ele associadas. Vai o sossego, vai a tranquilidade, vai a indiferença e a madracice, porque outros tempos advieram. O Outono instalou-se, medrou, e até já está em idade adulta. A chuva e o frio vieram com ele, substituindo os minguados e soalheiros resistentes dias, por novos dias, e noites, de bater o dente. Com o Outono chega também a escola para as crianças, chegam as despedidas, chegam as colheitas, e chega o tempo tão imprescindível para a concretização de projectos adiados.
Tinha-me proposto para os tempos de menor ocupação e logo que me fosse viável, colocar num pequeno vídeo algumas imagens recolhidas durante a edição deste ano de 2009 da Feira das Artes e Ofícios – FAO. Assim pensei e assim fiz, arquivando o resultado da “distracção” realizada num destes vulgares suportes digitais que dão pelo nome de flash ou pendisks. Sendo muito práticos, úteis e maneirinhos, são quase obrigatórios nas viagens. Mas, como são pequenos, também se perdem ou escondem com relativa facilidade. E assim aconteceu. O meu suporte digital, o meu flash disk, esteve desaparecido muito tempo adiando mais ainda os meus projectos.
Procurei, indaguei, percorri, remexi. Nada! Indispus-me e indispus. Bastante!
Até que há uns dias atrás o pequeno e malfadado artefacto apareceu, no sítio mais verosímil e da forma mais natural. Quase sempre é assim. Onde e quando e se não procuram, quando já nem delas nos lembramos, é que estas “engenhocas” se mostram.
Não perdi o sono com este episódio, nem lhe dei importância de maior. Mas, verdade seja dita, provocou-me algum desconforto na medida em que tinha prometido dar notícia e partilhar o acontecimento - FAO -, com amigos que não teriam, nem tiveram, possibilidade de nele estar presentes.
Ultrapassado que está o sumiço, cá estou a cumprir a minha promessa.
Quanto à notícia, e uma vez que demasiado tempo entretanto se passou, vou penalizar-me por fazer-lhe apenas uma referência breve. Como se compreenderá, outra que fosse, teria sempre um carácter profundamente deslocado e obsoleto.
Assim, apenas darei nota de que o programa se cumpriu e que foram vividos dias de grande animação em Soajo. O largo do Eiró e as ruas e ruelas adjacentes abarrotaram por completo de gente muito satisfeita. As pessoas conviveram, dançaram e deliciaram-se com os produtos da nossa região. A fazer fé no “boato”, a feira terá alcançado por inteiro os seus objectivos, desde a promoção dos produtos e das artes e ofícios tradicionais, à divulgação do folclore e de outras manifestações da cultura popular soajeira, minhota e fronteiriça.
Como sou exigente e insatisfeito, por natureza, gostaria de pedir para o próximo ano mais e melhor. Não será fácil!
Deixo um abraço solidário, grato, de incentivo e regozijo aos jovens da Associação Desportiva e Cultural de Soajo pelas iniciativas e pelo empenho demonstrado.
No que à partilha diz respeito, é com satisfação que me apresto a concretizá-la, ( ver vídeo no youtub Soajo FAO 2009), pese embora o demasiado atraso. Algo valerá, mesmo com atraso, se, ao trazer à nossa memória e ao nosso olhar imagens que nos formaram, moldaram e armaram, apequenar o grande mar da nossa saudade e da nossa labuta, neste imenso oceano da Diáspora.
Sejam felizes, sempre e neste Outono.
Publicada por leunam-atab à(s) quinta-feira, novembro 19, 2009
Etiquetas: Arcos de Valdevez, feira das artes e ofícios, soajo