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Recebi uma mensagem do YOUTUBE a comunicar-me que o vídeo que acabara de enviar, e a que dei o nome de "memórias capítulo quarto", fora bloqueado. O facto, escreveram, estava relacionado com os direitos de propriedade da faixa de áudio, "Nwahulwana", cantada por Humberto Carlos Benfica, vulgo Wazimbo, que pertencem à Warner Music Group (WMG). Sabia que assim era, mas também sabia, porque ouvia e via, que a música está por variadíssimos sítios da NET. Respeito os direitos de propriedade. Percebo a WMG, mas não entendo. Não entendo que, quando não há desígnios interesses ou vantagens comerciais, nos seja coarctada a possibilidade de ilustrar um documento, uma tarefa ou ocorrência, com algo de que dispomos e que nos custou dinheiro. Eu comprei o CD e supunha que o direito a ouvir as músicas que o compõem, quando e onde quisesse, mas não.
A Youtube Team sugere e oferece nestas situações, a utilização de uma música alternativa de uso livre. Experimentei, mas não encontrei sintonia bastante para aceitar qualquer das sugestões. O vídeo, que foi absolutamente privado, é deveras pessoal, e pretende ser para além de um hobby uma recordação, uma narrativa de memórias dos moços, complexos e arriscados, anos de 73 e 74. Inclui elementos próprios e outros recolhidos da NET, ( como fotografias de pessoas e locais, de artesanato, de pintura e escultura), desde que, e porque, relacionados com sítios, gentes ou situações, que me foram ou estiveram próximas. Preferi, por esta ordem de razões, fazê-lo acompanhar de uma música original, nativa, que guardo desde esses tempos. Foi gravada por mim, ao vivo, para um barato gravador de pilhas com micro incorporado.
Interpretou-a um expansivo aldeão que dedilhava, com a mestria que só a experiência garante, um velho instrumento artesanal de apenas duas cordas, construído a partir de uma metade do que parecia ser uma abóbora ou cabaça. Não me lembra o nome do tal instrumento, assemelhado a um banjo, nem consigo datar a noite da gravação.
Recordo-me da velha mesa rectangular de madeira no centro da sala, e dos gastos bancos corridos que a ladeavam. Sobre ela espalhavam-se muitas e grandes garrafas de litro de cerveja a que chamávamos "bazucas", bem como os apetecidos bolos que a avioneta trazia regularmente de Tete, juntamente com o bem mais desejado de todos, o correio. O frigorífico, no canto superior direito da entrada e os cadeirões de verga alinhados junto às paredes, compunham o resto da mobília do compartimento.
Era uma noite quente. Uma quente noite africana como só ali acontecem. Foi diferente das outras, que eram sempre muito iguais, porque houve visitas e haveria música. E aconteceu tanta coisa, o convívio habitual, a cerveja e o bolinho, histórias, anedotas, patranhas, adivinhas, muita conversa e música. E foi assim, duma forma improvisada e rudimentar, que fiz o registo daquilo que hoje representa um pedaço do meu passado, e acabo de eleger, embora em segunda escolha depois de "nwahulwana", para banda sonora do vídeo, memórias capítulo quarto. Sei que não tem uma boa qualidade de audição. Ainda assim prefiro-a, por ser genuína, síncrona e pessoal.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
adenda a outros natais
Publicada por leunam-atab à(s) quarta-feira, dezembro 30, 2009
Etiquetas: memórias capítulo quarto, militar, natal memórias moçambique 2ª cart bart 6223