Portugal vem atravessando uma crise gravíssima.
Os tempos estão difíceis a vários níveis, desde o económico ao financeiro, desde o laboral ao social, desde o educativo ao cultural. Duvido ser possível a identificação de algum aspecto que nos possa fazer vicejar o ego. Até o desporto, quase sempre considerado e confirmado como a alegria (ou o ópio) do povo, parece ter-nos virado as costas, já que a selecção nacional teve um desempenho medíocre no Euro 2008 da Áustria / Suíça.
De acordo com os dados revelados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), a média dos vencimentos recebidos pelos portugueses, por ano, é menos de metade da dos residentes nos restantes países da zona euro – 11.616 euros.
Um valor muito aquém dos 25.290 euros auferidos nos países da OCDE e dos 24.666 euros dos países da União Europeia.
Segundo o estudo "Um Olhar Sobre a Pobreza - Vulnerabilidade e Exclusão Social no Portugal Contemporâneo" entregue ontem – 14/07/2008 - pelo presidente do Conselho Económico e Social ao Presidente da República, trinta e cinco por cento dos portugueses que vivem numa situação de pobreza têm um emprego. Trabalham.
Segundo o mesmo estudo só em 2006 os salários dos portugueses caíram 2,6 por cento.Ao que parece, apenas os gestores das grandes empresas privadas, participadas, e públicas, auferindo vencimentos que chegam a quintuplicar e decuplar o do PR, portanto dignos de um futebolista de clube de topo, escapam ao infortúnio a que está destinado o povo português. A pilhagem é inversamente proporcional à solidariedade. Vampiros!
Acresce ainda que, segundo o boletim económico de Verão do Banco de Portugal ( BdP ) hoje - 15/07/2008 – divulgado a previsão do crescimento económico deste ano baixou para 1,2 por cento, uma diminuição de oito décimas em relação à previsão anunciada em Janeiro e que era de dois por cento.O boletim económico de Verão sustenta esta revisão em baixa na deterioração de quase todas as componentes macroeconómicas, em particular na forte quebra do investimento, que passa a crescer apenas um por cento, contra os 3,3 por cento apontados em Janeiro passado, da procura interna, que recua para um por cento (era 1,4 por cento no início do ano) e nas exportações (abranda para 4,4 por cento, menos cinco décimas do que em Janeiro).
Na bolsa a queda de hoje do índice PSI20 aproximou-se de quatro por cento, liderando o sentimento pessimista na Europa e demonstrando uma forte tendência vendedora dos investidores que apostaram na praça portuguesa.
Quanto ao desemprego as últimas informações disponíveis da agencia financeira datadas de 01/07/2008 dizem que a taxa de desemprego estabilizou em Maio na Zona Euro; mas voltou a aumentar em Portugal ao registar uma subida de uma décima, face a Abril, para os 7,5%, segundo os dados divulgados esta terça-feira pelo Eurostat. Não está contabilizado o desemprego transformado em migração pendular, diária e semanal, para Espanha.
Quanto ao endividamento das famílias ascende a 129% do rendimento disponível.
Isto quer dizer que as dívidas das famílias portuguesas superam em 29% os rendimentos, revelam dados do Banco de Portugal, divulgados no Relatório de Estabilidade Financeira.
Os tempos estão mesmo difíceis. A crise está instalada.
Há quem queira explicá-la dizendo que é uma a crise importada, que deriva das subidas de preço do petróleo, que resulta de créditos mal parados, do subprime, da valorização do euro, etc, etc, etc.
Num tempo de globalização que já é intolerável ignorar, e cujos efeitos dificilmente serão menosprezáveis, resultará não excessivamente controverso aceitar que estes tempos difíceis chegariam até nós, também por via externa. Afinal de contas somos uma economia, de mercado, aberta. Justificará tudo ?
Não justifica ! As politicas económica, social e sobretudo a fiscal têm sido desastrosas. Todo o recurso e nervo é canalizado, à velocidade de falcão, para a satisfação do défice. O divertido regabofe de muitos anos foi substituído por uma somítica avareza. A classe média foi precocemente reduzida à expressão mais simples. O consumo interno diminuiu.
O investimento e a produção retraíram-se. As empresas fecham, abrem falência e o desemprego alastra, mesmo ganhando nós menos de metade dos europeus da zona euro.
É nosso fado! Sempre fomos lestos em explicações e tardos em soluções.
Como encaixa aqui a abissal corrupção, ( no privado e no público ), que se diz grassar por aí fora de Norte a Sul do litoral ao interior ?