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Cá estamos, depois de uns dias de afastamento de quase tudo, até dos jornais, em favor da aproximação do que foi, e é, mais importante!
Noutro plano, importante é, também, saber o que se vai dizendo e escrevendo sobre “cheques em branco e cantos de galo” no nosso país, já que, de forma directa e indirecta nos acabam por acometer.
O tempo tem-se revelado “curto”para escrever, ou para outras tarefas que não as de rotina mais imediata, por isso transcrevo, com hiperligação, duas crónicas do correio da manhã de hoje.
São narrações de proximidade e de actualização do blogue.
João Pereira Coutinho, correio da manhã
A voz da razão
Um cheque em branco
Com a autoridade política desfeita em cacos, o primeiro-ministro mandou chamar o partido. Para quê? Para conseguir ‘unidade’, ou seja, uma espécie de polícia de choque que o proteja das negras trapalhadas da vida. Um líder, por definição, lidera. Mas Sócrates já não lidera o seu rebanho; esconde-se atrás dele, o que não deixa de ser uma confrangedora exibição de tibieza e fragilidade.
E o rebanho? O rebanho parece disposto a caminhar para o matadouro, ignorando por completo esse fantasma tremendo que se chama ‘dia de amanhã’. Porque existem ‘dias de amanhã’ que o PS, logicamente, desconhece. Que fará o PS, este PS comprometido e arregimentado, se a imprensa continuar a retirar da cartola coelhos que mais parecem ratazanas? Que fará o PS, este PS silencioso e timorato, quando a degradação política, já alarmante, atingir níveis insuportáveis? Fingir que não tem nada a ver com nada?
O PS não se prepara para apoiar Sócrates. Prepara-se, coisa pior, para lhe passar um cheque em branco sem exigir fiador. É o princípio da falência partidária.
João Miguel Tavares, correio da manhã
O Cronista Indelicado
Sócrates canta de galo, os outros cacarejam
A notícia da morte de José Sócrates tem sido manifestamente exagerada. Muita gente diz, e com razão, que por um décimo das avarias que Sócrates já praticou Pedro Santana Lopes foi posto fora de São Bento. Mas há uma diferença substancial entre os dois, que não tem a ver com a gravidade dos actos mas com a ordem que se consegue manter na capoeira: enquanto o governo de Santana estava em cacos, com ministros a distribuírem bicadas por todo o lado, José Sócrates continua a ser o único dono dos ovos. Ele canta de galo. Os outros cacarejam.
Ver gente como Mário Soares, António Vitorino ou Almeida Santos vir a público defender Sócrates, depois de tudo o que foi revelado nos jornais, é uma coisa que dá a volta ao estômago, e diz bem do estado lastimável em que se encontra a ética da República. Mas não há como negar a espantosa persistência do primeiro-ministro, e a fidelidade canina que desperta à sua volta. Pena ter cedido, como Darth Vader, ao lado negro da Força – fossem estas qualidades dirigidas para o sítio certo e poderíamos ter tido um excelente primeiro-ministro, em vez de um zombie político que por mais machadadas que leve regressa sempre dos mortos para nos atormentar.
Acredite em mim, caro leitor. Ainda há-de passar um outro Inverno e José Sócrates continuará no seu cargo, a fazer inaugurações todos os sábados no Portugal profundo, a reunir-se com muitas senhoras, a dar entrevistas cândidas e a recusar as explicações que seria do seu mais elementar dever fornecer. É triste, é deprimente, mas é assim. Licenciatura da Independente, projectos da Guarda, caso Cova da Beira, caso Freeport, apartamento na Braancamp e agora o Face Oculta. Sócrates está neste momento a usar a sua sétima vida. E é bem capaz de ainda vir a bater o recorde dos gatos.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
cheques em branco e cacarejos
Publicada por leunam-atab à(s) sexta-feira, fevereiro 19, 2010