sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

confusão, se não emenda

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"Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades". Já o dizia Camões, bem lá pelo ido séc. XVI.
Efectivamente, a mais empírica das observações assim no-lo mostra. Todavia, também não deixa de ser verdade que a história se repete.
As mudanças sociais mais visíveis e mais rápidas acontecem no domínio físico ou material, sobretudo tecnológico. Outras mudanças, de natureza imaterial como nos usos e costumes, tradições, língua, religião, são mais lentas, passando por várias gerações.
Há quem aponte muitas semelhanças entre a sociedade portuguesa actual e a que protagonizou a implantação da Primeira República, citando-se sobretudo as que se relacionam com a dívida pública e a carga fiscal, a corrupção, a exploração do povo, o analfabetismo, a angústia, a miséria galopante ...
Os que assim o fazem dizem que nada mudou. Que o povo que somos, autor de feitos e obras ímpares, e como tal reconhecidas, merecia melhor sorte, merecia outros dirigentes políticos.
Também o diz Frei Fernando Ventura na conversa com Ana Lourenço, que este vídeo documenta.
Bem podia ser de ontem, como do início do século XX, este vídeo de Outubro de 2010.
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Assim de memória e ao correr da pena, ou da tecla, eis algumas expressões que retive quando o vi e ouvi:
« somos uma nação com coração, governada por gente peneirenta;
somos uma barraca com antena parabólica no tecto e submarino à porta;
temos muitos denunciadores e poucos anunciadores, e os que temos mentem;
a Islândia citou o primeiro ministro em tribunal, .... ( nós absolvêmo-lo sem provas)...
não temos líderes em Portugal, temos oportunistas, e medíocres;
a classe politica, que temos, não se respeita a si própria e muito menos ao país;
é tempo de despedirmos os políticos profissionais para colocarmos profissionais na política;
vivemos de penachos, de títulos, obtidos sabe-se lá como;
temos um nível cultural baixíssimo, apregoando novas oportunidades de coisa nenhuma;
houve demasiado facilitismo, entramos na universidade quase sem saber ler nem escrever;
saímos dos liceus sem saber fazer rigorosamente nada, sem quaisquer qualificações;
estamos a criar gerações sem memória e sem história o que pode levar a cataclismos sociais;
temos vergonha da nossa história, meteram-nos na cabeça que era pecado termos a história que temos;
estamos a construir uma sociedade sem valores, montada na fachada e assente no ter e não no ser;
os caixotes do lixo estão a ser demasiado frequentados;
pelos caixotes do lixo já passa gente que não se pode considerar indigente;
não se pode pensar em TGVs quando o povo está a comer dos caixotes do lixo
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Parafraseando o Padre António Vieira no Sermão de Santo António aos Peixes: " que possam servir de confusão se não de emenda".