quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

palhaços

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Ainda vai havendo um ou outro jornalista com coragem neste país.
Talvez não cheguem a ser tantos quantos os dedos de uma só das mãos.
Mário Crespo é um desses.
Mário escreveu há alguns dias no JN mais um excelente artigo de opinião. Quero testemunhar-lhe o meu reconhecimento ao divulgar, tanto e como posso, o seu pensamento e coragem.
Aqui fica.


Opinião

O palhaço
2009-12-14
O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.

O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.

Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.

E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.

Ou nós, ou o palhaço.

adenda a outros natais

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Recebi uma mensagem do YOUTUBE a comunicar-me que o vídeo que acabara de enviar, e a que dei o nome de "memórias capítulo quarto", fora bloqueado. O facto, escreveram, estava relacionado com os direitos de propriedade da faixa de áudio, "Nwahulwana", cantada por Humberto Carlos Benfica, vulgo Wazimbo, que pertencem à Warner Music Group (WMG). Sabia que assim era, mas também sabia, porque ouvia e via, que a música está por variadíssimos sítios da NET. Respeito os direitos de propriedade. Percebo a WMG, mas não entendo. Não entendo que, quando não há desígnios interesses ou vantagens comerciais, nos seja coarctada a possibilidade de ilustrar um documento, uma tarefa ou ocorrência, com algo de que dispomos e que nos custou dinheiro. Eu comprei o CD e supunha que o direito a ouvir as músicas que o compõem, quando e onde quisesse, mas não.

A Youtube Team sugere e oferece nestas situações, a utilização de uma música alternativa de uso livre. Experimentei, mas não encontrei sintonia bastante para aceitar qualquer das sugestões. O vídeo, que foi absolutamente privado, é deveras pessoal, e pretende ser para além de um hobby uma recordação, uma narrativa de memórias dos moços, complexos e arriscados, anos de 73 e 74. Inclui elementos próprios e outros recolhidos da NET, ( como fotografias de pessoas e locais, de artesanato, de pintura e escultura), desde que, e porque, relacionados com sítios, gentes ou situações, que me foram ou estiveram próximas. Preferi, por esta ordem de razões, fazê-lo acompanhar de uma música original, nativa, que guardo desde esses tempos. Foi gravada por mim, ao vivo, para um barato gravador de pilhas com micro incorporado.
Interpretou-a um expansivo aldeão que dedilhava, com a mestria que só a experiência garante, um velho instrumento artesanal de apenas duas cordas, construído a partir de uma metade do que parecia ser uma abóbora ou cabaça. Não me lembra o nome do tal instrumento, assemelhado a um banjo, nem consigo datar a noite da gravação.

Recordo-me da velha mesa rectangular de madeira no centro da sala, e dos gastos bancos corridos que a ladeavam. Sobre ela espalhavam-se muitas e grandes garrafas de litro de cerveja a que chamávamos "bazucas", bem como os apetecidos bolos que a avioneta trazia regularmente de Tete, juntamente com o bem mais desejado de todos, o correio. O frigorífico, no canto superior direito da entrada e os cadeirões de verga alinhados junto às paredes, compunham o resto da mobília do compartimento.

Era uma noite quente. Uma quente noite africana como só ali acontecem. Foi diferente das outras, que eram sempre muito iguais, porque houve visitas e haveria música. E aconteceu tanta coisa, o convívio habitual, a cerveja e o bolinho, histórias, anedotas, patranhas, adivinhas, muita conversa e música. E foi assim, duma forma improvisada e rudimentar, que fiz o registo daquilo que hoje representa um pedaço do meu passado, e acabo de eleger, embora em segunda escolha depois de "nwahulwana", para banda sonora do vídeo, memórias capítulo quarto. Sei que não tem uma boa qualidade de audição. Ainda assim prefiro-a, por ser genuína, síncrona e pessoal.

sábado, 26 de dezembro de 2009

outros natais

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Como vão longe esses tempos. Tempos de um outro tempo, que até do outro século.
Tempos de outras doutrinas, de outras normas, de copiosos sonhos e horizontes acanhados.
E como nós éramos tão moços e generosos, tão sonhadores e descuidados. Tanto que ainda víamos a adolescência escapar-se-nos na última curva, ali tão perto, do que ambicionávamos poder vir a ser uma duradoura estrada de vida. Como essa idade, de preocupações e obrigações poucas, é prazenteira. Que breve é a mocidade moça.

A vida é um processo, é um rio de vários caudais que não param, nunca param. E se uns correm sedutores e proveitosos, outros haverá menos amigos ou até constrangedores. Recém-entrados na juventude, logo nos colocavam na linha da frente duma guerra que não era nossa, e que também por isso não queríamos, mas padecemos. Não a queríamos por isso, e porque a juventude sempre é livre e libertária, altruísta, generosa e solidária. Inexperiente também, porquanto ainda em início de construção e formação. Poder(ia)á ser de outro modo, quando o seu passado abrang(ia)e apenas uns sumários e inocentes vintes anos?

Passei, em situação de guerra e por imposição, parte da minha juventude em África. Foi, do rio da minha vida, o trecho de caudal mais difícil, incerto e inseguro. Custoso até, talvez. Mas nunca foi sofrido; tive a sorte de ter estado em (na) boa (2ª) COMPANHIA.
Eu era ainda um "menino", com corpo de homem, a quem uma instrução de seis breves meses destinou estranhas obrigações e responsabilidades, militares. Cumpri, umas e outras, com lealdade e com honra. Em paralelo, as amizades que fiz documentam e testemunham o respeito do, e pelo, "adversário".

Tudo isto me transporta às muitas recordações e saudades que tenho de Moçambique. Lindas.
Se é quimérico eliminar o passado, renunciar à felicidade é anómalo.
Por isso, Moçambique faz parte de mim, do meu passado, está nas minhas memórias. Jamais poderei esquecer a sua geografia física e humana, a sua fauna e flora; as tradições, gastronomia e artesanato, as danças e a música, a pintura e a escultura. Tanta realidade, tanta recordação.
Também Zeca Afonso andou por Moçambique. Esteve, entre outras, na cidade da Beira, onde deu aulas. Zeca disse:

"Custou-me muitíssimo ir para África, mas hoje não estou nada arrependido".
"Fiquei terrivelmente ligado àquela realidade física que é a África, aquilo tem de facto qualquer coisa de estranho, uma força muito grande que nos seduz".
"O meu baptismo político começa em África. Estava a dois passos do oprimido".

Caminhamos estes lugares em condicionalismos e épocas diferentes. Ainda assim, creio poder dizer que compreendo o sentido das palavras ditas pelo Zeca. Também eu "fiquei terrivelmente ligado".
Por isso, este pedaço de memórias, este memórias capítulo quarto, para demonstrar e documentar a minha nostalgia, e partilhá-la com aqueles que, tal como eu, guardam saudades daqueles tempos, daqueles sítios, e do Natal de 1974. O meu abraço para todos e cada um desses jovens velhos amigos, os "bravos e sempre leais" da 2ª CART do BART 6223, de quem verdadeiramente muito me orgulho.

domingo, 22 de novembro de 2009

soajo anos 70

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No último post inseri um link para o meu canal de vídeos pessoal e privado alojado no Youtube. É assim que procedo sempre que me entretenho e recreio, pois é disso que se trata, a partilhar sem restrições ou condições os hobbies que construo de forma despretensiosa e amadora.
Essa é a finalidade do canal.
http://www.youtube.com/user/macaba01
Aqui no blog é diferente. O objectivo é publicar, quando possível e oportuno, quer seja de minha autoria quer seja de estranhos, aquilo que me parecer relacionado com a “pátria pequena”. Ou não, se o reputar de merecedor.
Hoje vou publicar algo que não sendo meu, é merecedor e é sobre Soajo.
É um fragmento que faz parte do programa que a RTP produziu nos anos 70 do século vinte sob a designação de “povo que canta”, realizado por Michel Giacometti.
Publico porque considero este documento importante, enquanto revelador e caracterizador das nossas identidade e cultura soajeiras.
Agradeço ao amigo e “vizinho” Fernando M.C. Barros.

povo que canta rtp 1970



"No concelho de Arcos de Valdevez, Alto Minho, o SOAJO - povoação caracteristicamente montanhesa no sopé da serra que tem o seu nome - vive ao ritmo lento do trabalho agrícola e do pastoreio. O pousio é desconhecido e a agricultura praticada em pequenas glebas dispersas pelas encostas. As culturas limitam-se ao milho -de regadio e sequeiro - centeio, batatas, vinho, azeite, cera e mel. Na pastorícia, por "vezeiras", os rebanhos pertencentes a diversos donos são guardados pelo mesmo pastor. O gado é levado para a serre, onde fica até Setembro, o mais tardar princípios de Outubro - altura em que se colhe o milho. No interior da serra - dada a exiguidade das áreas cultivadas em redor da povoação - encontram-se as chamadas "BRANDAS", núcleos de povoamento temporário de carácter agrícola ou pastoril ou misto, constituídos por choupanas e leiras de cultivo, onde o Soajeiro habita apenas na altura das sementeiras e das ceifas.
O Pelourinho, "rude no material e na arte", segundo LEITE DE VASCONCELOS, e cujo simbolismo é diversamente interpretado.
Em volta da eira comum, a presença - hierática - dos espigueiros, mais conhecidos por canastros ou caniços - onde o milho vai a secar antes de ser malhado. Para evitar a subida de roedores, os espigueiros têm a sua armação assente sobre pedras arredondadas ou mós. As fendas verticais destinam-se à ventilação.
Quem pretende utilizar a eira comum para a sua malha, coloca, na véspera do dia, uma vassoura de giesta debaixo de uma pedra, sinal por todos entendido.
Solidários entre si, os Soajeiros são conhecidos na nossa história pela sua independência e espírito de combatividade, de que é exemplo, entre outros, a figura quase lendária do Juiz do Soajo, e sem esquecer a famosa rixa que eles, Soajeiros, há pouco mais de meio século tiveram com gente dos Arcos de Valdevez, onde um dos seus tinha sido maltratado. Combinada a desafronta, juntou-se um numeroso grupo de Soajeiros que, no dia marcado, varreu literalmente a Feira dos Arcos com paus, de que eram temidos jogadores. A quem procurava dissuadi-los, respondiam - "quando saímos do Soajo, já os sinos ficaram a tocar pelos que hão-de morrer".
Os Soajeiros conseguiram do Rei D. Dinis que "não seja permitida demora dos cavaleiros fidalgos naquelas paragens, senão o tempo suficiente que leva a esfriar um pão, exposto ao ar, na ponta de uma lança".
A deliberação tomada por aquele Rei respondia a uma queixa que lhe apresentaram os Soajeiros contra os fidalgos, os quais, "tratando-lhes as filhas e as mulheres pouco decorosamente", foram compelidos a "vender tudo o que ali possuíam e ir morar noutra parte, não sendo nunca mais permitido a qualquer fidalgo ou cavaleiro adquirir bens do dito concelho"."

Autor: Michel Giacometti
colaboração de Alfredo Tropa
"Povo que Canta", RTP_1970

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

outono

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O Verão há muito que terminou e o tempo quente já lá vai. Vai o calor, vão os amigos e vão as férias quase sempre a ele associadas. Vai o sossego, vai a tranquilidade, vai a indiferença e a madracice, porque outros tempos advieram. O Outono instalou-se, medrou, e até já está em idade adulta. A chuva e o frio vieram com ele, substituindo os minguados e soalheiros resistentes dias, por novos dias, e noites, de bater o dente. Com o Outono chega também a escola para as crianças, chegam as despedidas, chegam as colheitas, e chega o tempo tão imprescindível para a concretização de projectos adiados.
Tinha-me proposto para os tempos de menor ocupação e logo que me fosse viável, colocar num pequeno vídeo algumas imagens recolhidas durante a edição deste ano de 2009 da Feira das Artes e Ofícios – FAO. Assim pensei e assim fiz, arquivando o resultado da “distracção” realizada num destes vulgares suportes digitais que dão pelo nome de flash ou pendisks. Sendo muito práticos, úteis e maneirinhos, são quase obrigatórios nas viagens. Mas, como são pequenos, também se perdem ou escondem com relativa facilidade. E assim aconteceu. O meu suporte digital, o meu flash disk, esteve desaparecido muito tempo adiando mais ainda os meus projectos.
Procurei, indaguei, percorri, remexi. Nada! Indispus-me e indispus. Bastante!
Até que há uns dias atrás o pequeno e malfadado artefacto apareceu, no sítio mais verosímil e da forma mais natural. Quase sempre é assim. Onde e quando e se não procuram, quando já nem delas nos lembramos, é que estas “engenhocas” se mostram.
Não perdi o sono com este episódio, nem lhe dei importância de maior. Mas, verdade seja dita, provocou-me algum desconforto na medida em que tinha prometido dar notícia e partilhar o acontecimento - FAO -, com amigos que não teriam, nem tiveram, possibilidade de nele estar presentes.
Ultrapassado que está o sumiço, cá estou a cumprir a minha promessa.
Quanto à notícia, e uma vez que demasiado tempo entretanto se passou, vou penalizar-me por fazer-lhe apenas uma referência breve. Como se compreenderá, outra que fosse, teria sempre um carácter profundamente deslocado e obsoleto.
Assim, apenas darei nota de que o programa se cumpriu e que foram vividos dias de grande animação em Soajo. O largo do Eiró e as ruas e ruelas adjacentes abarrotaram por completo de gente muito satisfeita. As pessoas conviveram, dançaram e deliciaram-se com os produtos da nossa região. A fazer fé no “boato”, a feira terá alcançado por inteiro os seus objectivos, desde a promoção dos produtos e das artes e ofícios tradicionais, à divulgação do folclore e de outras manifestações da cultura popular soajeira, minhota e fronteiriça.
Como sou exigente e insatisfeito, por natureza, gostaria de pedir para o próximo ano mais e melhor. Não será fácil!
Deixo um abraço solidário, grato, de incentivo e regozijo aos jovens da Associação Desportiva e Cultural de Soajo pelas iniciativas e pelo empenho demonstrado.
No que à partilha diz respeito, é com satisfação que me apresto a concretizá-la, ( ver vídeo no youtub Soajo FAO 2009), pese embora o demasiado atraso. Algo valerá, mesmo com atraso, se, ao trazer à nossa memória e ao nosso olhar imagens que nos formaram, moldaram e armaram, apequenar o grande mar da nossa saudade e da nossa labuta, neste imenso oceano da Diáspora.
Sejam felizes, sempre e neste Outono.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O fim de festa

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Ontem, Manuel António Pina escreveu no Jornal de Notícias mais uma delícia. Todas as suas crónicas o são, e com quase todas me emparceiro. Neste “Portugal Peteriano”, cada vez mais ignorante, bacoco, incompetente, servil, ratoneiro e finório, atrevo-me a dizer que as suas crónicas deviam ser leitura obrigatória nas nossas escolas de jornalismo no âmbito de uma qualquer disciplina de técnicas de comunicação, e também no nosso ensino básico e secundário, aqui inseridas nas matérias de Português e de Educação Cívica.
Não eliminava, mas dava algum jeito no combate à democratização do ensino da ignorância, que tão “bondosamente” veio substituir a ignorância democrática do antigo regime. No outro ou neste discurso, com os outros ou com estes objectivos, os ideais ou valores “proclamados” e ou enfatizados, na prática, sempre têm querido, e obtido, a integração e o controlo das massas, a distracção e o analfabetismo social, a exploração do povo.
Com a vénia devida transcrevo a crónica, e coloco o link para quem queira posteriormente linkar para outras, todas delícias como escrevi e mantenho.
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"Desta vez, os autores da "campanha negra" estão devidamente identificados: são os juízes do Tribunal de Contas. Por motivo de "urgência", embora o contrato só terminasse em 2015, o Governo assinou com a Liscont, empresa da famosa "holding" económico-partidária Mota-Engil/Jorge Coelho (e, já agora, Luís Parreirão, também ex-governante socialista da área das Obras Públicas) um "aditamento" à concessão do terminal de Alcântara. Sem concurso, que a coisa era "urgente" e sabe-se lá quem estará no Governo em 2015. É um contrato justo: a Liscont cobra os lucros e o Estado (a Grande Porca bordaliana, a de inesgotáveis tetas) suportará eventuais prejuízos, ou, nas palavras do TC, "o ónus do risco do negócio passa para o [Estado]". O Estado pagará ainda 1,3 milhões em advogados, consultores & assessores para a montagem e gestão da ampliação do terminal; e até se, durante as obras, calhar serem descobertos vestígios arqueológicos, será (adivinhem quem) o Estado a pagar a paragem dos trabalhos. Só de má-fé é que alguém pode concluir que tudo isto não é de interesse público e do mais transparente que há".
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Música, Fausto, o barco vai de saída
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terça-feira, 21 de julho de 2009

efeméride

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Contam-se e comemoram-se hoje, 21 de Julho, quarenta anos de um dos mais espectaculares acontecimentos do século XX, os primeiros passos que o homem deu na Lua.
Estive acordado em frente à TV até aí pelas cinco da madrugada, tanto quanto me recordo, esperando e assistindo. Muitos duvidaram, alguns negaram, e outros juraram a pés juntos que tudo não passava de propaganda e ficção americanas.

A tripulação da histórica missão - Apollo 11 - era formada pelo comandante Neil Armstrong, Michael Collins (piloto do módulo de comando) e Edwin "Buzz" Aldrin (piloto do módulo lunar).

Estávamos a 21 de Julho de 1969, eram 02h56 em Lisboa quando Neil Armstrong, seis horas e meia após a alunagem deu, de pé esquerdo, o primeiro passo na Lua, e pronunciou a sua célebre frase : “um pequeno passo para o homem, um passo de gigante para a humanidade”. Aldrin foi segundo 19 minutos depois. Foram os primeiros seres humanos a caminhar na Lua. Depois deles, mais 10 astronautas, todos dos EUA, exploraram a superfície lunar.

A alunagem tinha ocorrido no domingo 20 de Julho de 1969 às 20h18 de Lisboa.
O módulo ‘Eagle’ permaneceu no mar da Tranquilidade 21h36m, até levantar em voo de retorno para se juntar à nave de Collins. Seria abandonado no espaço antes do regresso do módulo de comando à Terra.
Durante a sua permanência na Lua os astronautas recolheram pedras e rochas lunares, nunca se afastando mais de trinta metros do módulo ‘Eagle’, que tinha grandes patas para melhor levantar voo.
Eu vi há quarenta anos, e revi hoje.
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sábado, 18 de julho de 2009

feira das artes e ofícios II

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Estamos a dois fins de semana da feira das artes e ofícios deste ano de 2009.
O calendário já era conhecido, e já aqui tinha sido colocado.
O programa, de que só hoje tomei conhecimento, pode ser lido abaixo, ou explorado a partir daqui.
Segue, numa linha de continuidade histórica, privilegiando tradições e abraçando costumes. Costumes e tradições nossas, e dos nossos vizinhos Galegos, que afinal aqui tão perto estão (são) de nós.
Numa primeira leitura parece-me satisfatoriamente conseguido, tendo em conta os meios e recursos de que se diz ter sido possível dispor. Aplaudo a equilibrada simbiose, ou miscelânea, de actividades com carácter artístico e cultural, participativo e contemplativo, lúdico e sério.
Resta-nos aguardar pela sua materialização.
Há no entanto um ponto que considero padecer de dispensável uniformidade. Dispensava-se a escusada monotonia das jornadas gastronómicas. Não haverá, aparentemente, razão para tal.
Espero não só marcar presença como participar.
Eis o programa:
FEIRA DAS ARTES E OFÍCIOS TRADICIONAIS - SOAJO
31 JUL A 02 AUG 2009

DIA 31 - SEXTA-FEIRA

19:00h – Abertura Oficial da Feira das Artes e Ofícios Tradicionais
19:00h – Arruada de bombos – “Grupo de Bombos – Dragões de S. Jorge”
19:30h – Abertura da exposição das melhores fotografias do concurso realizado ao abrigo do II BIOdoc - Festival de Cinema
20:00h – Atribuição de prémios aos melhores trabalhos do concurso de fotografia
20:00h - Jornadas Gastronómicas – Prato recomendado: “Carne de Cachena”
Restaurantes: “O Espigueiro; O Videira; Saber ao Borralho”
21:45h – Exibição do filme “A Vida Secreta dos Lobos” (…uma alcateia das Serras de Soajo e Peneda…), com a presença dos Jornalistas P. Alarcão e A. Moedas – Casa do Povo - II BIOdoc - Festival de Cinema
22:30h – Animação: “Rusgas populares”
23:59h – Encerramento

DIA 1 - SÁBADO

9:00h – Trilho Pedestre – Etapa da Travessia das Serras da Peneda e Soajo – Ligação Mezio - Soajo
11:00h – Abertura da Feira
13:00h - Jornadas Gastronómicas – Prato recomendado: “Carne de Cachena”
Restaurantes: O Espigueiro; O Videira; Saber ao Borralho
15:30h – Arruada de bombos: “Grupo de Zés - Pereiras de Soajo”
16:00h – Exibição do filme “A fotografia rasgada” – Casa do Povo - II BIOdoc - Festival de Cinema
16:00h – Animação: “Workshop de Danças Tradicionais” – Espaço da Feira
16:00h – EQUIPAPER - "À descoberta do Soajo" – em colaboração com a Associação Nacional de Criadores da Raça Garrana
17:00h – Exibição do Filme “A fotografia Rasgada” de José Vieira – Casa do Povo - II BIOdoc - Festival de Cinema
17:00H – Encontro de Concertinas – Largo do Eiró
18:00h – Animação: iPUM – Percussão Universitária do Minho
20:00h - Jornadas Gastronómicas – Prato recomendado: “Carne de Cachena”
Restaurantes: “O Espigueiro; O Videira; Saber ao Borralho”
21:00h – Exibição do filme “Mulheres da Raia” com a presença da Realizadora Diana Gonçalves – Casa do Povo - II BIOdoc - Festival de Cinema
21:45h – Outros tempos; Contadores de histórias de um Soajo não muito distante – Casa do Povo - II BIOdoc - Festival de Cinema
22:30h – Animação: “Grupo Origem” - Música Tradicional Portuguesa - Largo do Eiró
23:59h – Animação: “UXU KALHUS” – Folk / Alternativo - Largo do Eiró

DIA 2 - DOMINGO

10:30h – Arruada de bombos: “Os Bravos de S. Vicente”
11:00h – Abertura da Feira
12:00h - Jornadas Gastronómicas: Prato recomendado: “Carne de Cachena”
Restaurantes: “O Espigueiro; O Videira; Saber ao Borralho”
16:30h – Animação: “Encontro Folclórico” com a presença de: “Rancho Folclórico das Camponesas da Vila do Soajo” e “Grupo de Danças e Jogos Tradicionais de Sistelo”.
20:00h - Jornadas Gastronómicas: Prato recomendado: “Carne de Cachena”
Restaurantes: “O Espigueiro; O Videira; Saber ao Borralho”
22:00h – Animação: “Grupo Carlos Rodrigues” - Largo do Eiró
23:59h – Encerramento da Feira

sexta-feira, 17 de julho de 2009

surpresas? para mim não...

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Numa divagação recente que fiz pela Net dei por mim aqui
E gostei. Por isso divulgo.

Jornal PRIVADO, Informação Pública
Porque o JORNALISMO não é o mesmo que vender lentilhas. Porque um JORNAL deve ser a última trincheira da liberdade. E porque os JORNALISTAS não são moços de recados.
PRIVADO - Um jornal feito por pessoas!

A edição desta quarta-feira do Semanário Privado faz manchete com mais uma acha na fogueira do «caso Freeport»: «Belmiro queria pagar 500 mil contos para Sócrates chumbar» o outlet de Alcochete.
O jornal publica também uma história sobre agentes da PSP discriminados por tocarem em banda rock e dá a voz aos associados do Cofre de Previdência dos Funcionários e Agentes do Estado que acusam a direcção de «gestão danosa».
A empresária Filipa de Castro, ex-mulher do futebolista Beto, desmente ao SP que tenha tido qualquer romance escaldante com Cristiano Ronaldo e a irmã de Carolina Salgado confessa que Pinto da Costa «quis comprá-la com €150.000».
Saiba, ainda, onde comprar mais barato e leia os conselhos úteis de Mário Frota, presidente da Associação Portuguesa de Direitos de Consumo (APDC).
Ah, também gostei do vídeo abaixo, porque me parece verdadeiro e oportuno.
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quinta-feira, 16 de julho de 2009

voluntarismo bacoco

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1 - Multas e detenções da ASAE em risco...
O Tribunal da Relação de Lisboa classificou os poderes policiais da ASAE inconstitucionais por terem sido atribuídos sem o crivo do Parlamento.
Segundo o constitucionalista Bacelar Gouveia, os processos-crime levantados pela Autoridade podem voltar à estaca zero, tendo em conta o acórdão do Tribunal da Relação que considera os poderes da ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) inconstitucionais enquanto entidade com poderes de polícia criminal.
As consequências poderão traduzir-se quer na anulação de inúmeros processos, quer em avultadas indemnizações a muitos cidadãos.

2 - Pressões políticas...
O presidente do EUROJUST, Lopes da Mota, pediu o afastamento do inspector que dirige o processo disciplinar que lhe foi instaurado por alegadas pressões sobre os magistrados do caso Freeport, revelou fonte do Conselho Superior do Ministério Público.
Este pedido de Lopes da Mota foi comunicado ao Conselho Superior do Ministério Público pelo procurador-geral da República, Pinto Monteiro, não tendo sido explicada a fundamentação deste "incidente de suspeição", revelou a mesma fonte.
Já há quem pergunte: “Será um mero expediente dilatório, ou receio de uma decisão que se anteveja”?
Temos, segundo sondagens de opinião, uma justiça que não funciona, injusta, ineficaz, incredível.
Também se diz que: “Somos todos bons rapazes, incluso o senhor ministro da dita”.

3 -"Lapsos" na questão do terminal de Alcântara...
O contrato que prorroga a concessão por mais 27 anos sem concurso público, ou seja por ajuste directo, com o grupo Mota Engil, tem para além destas eventuais ilegalidades denunciadas pelo tribunal de contas, várias cláusulas gravosas para o Estado.
Questionado na AR, o ministério das Obras Públicas só depois da insistência dos deputados em assinalar que o Governo não forneceu informação essencial sobre o contrato de prorrogação da concessão do terminal de contentores de Alcântara é que a secretária de Estado dos Transportes assumiu o "lapso", pediu desculpas e prometeu de imediato enviar os documentos em falta.
Os deputados não ficaram convencidos das razões do ajuste directo com o grupo Mota Engil, nem da prorrogação do contrato com a Liscont.
Nós, o povinho, também não.

terça-feira, 14 de julho de 2009

civilidades

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Foi notícia por estes dias que Lubna Ahmed al-Hussein, uma jornalista sudanesa, era acusada no e pelo seu país do crime de ofensa à moral e ordem públicas, arriscando-se a uma pena de 40 chicotadas. Esta senhora teria cometido o crime de usar um “simples par de calças”.
Pelos vistos, lá para as bandas do Sudão, estas roupas podem provocar "desconforto público", mas ao que nos dizem as notícias, só se e quando vestidas por um corpo de mulher.
A jornalista em causa, que é conhecida por defender os direitos das mulheres, está presa aguardando julgamento. Diz-se que terá já convidado a imprensa estrangeira a estar presente, como forma de protesto contra a legislação sudanesa.
Este caso será mais um, a juntar a outro, que a imprensa internacional já referenciara há dias, e no qual a polícia sudanesa havia identificado 13 mulheres que usavam calças e aplicado a pena de 10 chicotadas a dez delas.
Lubna Ahmed al-Hussein poderá ter uma longa jornada pela frente. Terá, ao longo de toda ela, por mais cansativa e árdua que lhe possa vir a ser, o meu total apoio e solidariedade. Afinal...
”As grandes caminhadas começaram sempre com um primeiro e pequeno passo”.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

pandemias

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A imprensa dos últimos dias tem sido pródiga em notícias sobre a gripe “mexicana”. Segundo escreve hoje o jornal público, o total de casos de gripe A confirmados em Portugal subiu mesmo até aos setenta e um. Francisco George, director-geral da Saúde, previu há dias um crescimento exponencial do número de infectados com esta doença, e apontou mesmo para que 25 por cento de portugueses possam ser infectados já no próximo Inverno. Na imprensa também se diz que nas últimas 24 horas foram confirmados mais dez casos de gripe A causada pelo vírus H1N1, de acordo com o balanço diário do Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças.
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Acresce que juristas especializados nesta matéria são da opinião que Portugal não tem um regime jurídico preparado para ajudar a conter um cenário de pandemia da gripe A. Declaram inclusive que a nossa legislação não permite o internamento compulsivo de um cidadão, pelo que será sempre necessária a intervenção prévia de um juiz. Mais asseguram que uma situação de emergência não se compadece com a espera por um mandado, sob pena de apadrinharmos uma inflação vertiginosa da doença.
Sabermos que a lei vigente para travar doenças contagiosas tem 60 anos também nada nos conforta.
Confesso que estou a ficar preocupado. E não é apenas comigo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

feira das artes e ofícios

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A feira das artes e ofícios deste ano tem realização mais tardia que o habitual. As datas, fossem quais fossem, teriam sempre defensores e detractores. Calendarizar as feiras ali tão perto das festas tem a vantagem de permitir que a elas assistam mais emigrantes e mais turistas. Mais turistas pois assim o dizem as estatísticas relacionadas com esta indústria. Mais emigrantes pela relativa facilidade de encaixe dos dois eventos, já que próximos, nos sempre poucos dias livres que houver para desfrutar.
Tanto quanto julgo saber ainda não haverá brochuras publicitárias e informativas disponíveis.
Gozem o programa, seja ele qual for, pois haverão certamente coisas boas, quer na gastronomia, quer no artesanato, quer na música necessariamente tradicional.
A imagem foi retirada daqui:
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Soajo - 31 de julho, 1 e 2 de Agosto 2009
Feira das Artes e Ofícios Tradicionais e I Feira Transfronteiriça
A distância é escassa por isso nos compreendemos.
Música do outro lado da fronteira.
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domingo, 5 de julho de 2009

a RTP a partir de Soajo I I

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Decididamente, não fiquei satisfeito com a qualidade do vídeo que acompanha o post anterior. Tive mesmo muitas dúvidas quanto à sua publicitação. Tinham razão de ser, já que a qualidade do mesmo confirma-se, é pobre, é mesmo má.
Foi considerando que talvez seja preferível um mau documento a documento algum, que assentei divulgá-lo. É neste sentido que vou proceder com o próximo, uma vez que me parece ter, inclusivamente, mais riqueza humana e profusão paisagística que o já publicado.
Julguem por vós.
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A qualidade, não deixando de ser deficiente, parece-me bem melhor que a do anterior. Também não terão outro valor que não seja o de registaram e documentaram um facto casual e concreto da história da nossa terra, embora não banal.
Perdurarão como documento, como registo da passagem da RTP por Soajo, pelo Parque Nacional, pelo Alto Minho. Ao mesmo tempo testemunharão o salutar exercício de práxis funcional da RTP de enviar para todos os cantos do mundo, aonde chega, um pouco da nossa cultura, do nosso património natural e social.
A música será especialmente do agrado dos mais novos ou mais roqueiros.
Eu também gosto.
Os Soajeiros desde sempre estiveram abertos aos intercâmbios sociais e culturais.
Sejam felizes, onde quer que estejam.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

a RTP a partir de Soajo

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O meu programa para esta sexta-feira dia 03 de Julho, alinhavado ontem, começava com uma caminhada de cinco quilómetros na companhia da minha cadela. Não seria muito diferente daquilo que, com relativa frequência, venho fazendo nos últimos tempos, a conselho de muitos amigos e a aviso do meu “físico”.
O dia amanhecera sombrio, com muitas nuvens, embora relativamente quente. Já eu me preparava para o desafio de bater o meu recorde de 35 minutos de marcha continuada, quando me informaram que a RTP estava a transmitir da minha terra, da terra bonita de Soajo, a edição do dia do seu novo programa, Verão Total 2009. De imediato me detive para confirmar como acontecia a manhã na minha "pátria pequena", embora para mim sejam sempre lindas as manhãs no Soajo. Mesmo sombrias.
Quis satisfazer também a curiosidade de observar quem nos visitava, quem seriam os convidados do programa, bem como assistir à forma como os meus conterrâneos “brilhantemente” comprovariam o seu tradicional cavalheirismo. Como facilmente se perceberá a minha caminhada ficou adiada, os conselhos dos meus amigos foram esquecidos e os avisos do médico foram desrespeitados.
Estou a assistir ao programa com imperfeitas condições de recepção. Logo hoje. E não sei porquê. Vou, apesar de tudo, fazer o registo possível. Se entender que possui qualidade documental mínima colocarei a hipótese de partilhá-lo.
É sempre muito agradável, sobretudo quando se está ausente, mais ou menos longe, assistir ao desenrolar das imagens que fizeram a nossa infância.
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A chuva apareceu. Cai macia, amena, tranquila. Condicionou o programa, naturalmente. O dia que amanheceu sombrio assim continua, sombrio.
Pela minha memória desfilam os dias soalheiros de Outono
e as chuvas desarmónicas de Maio.
A minha memória é uma sinfonia de Ludwig van Beethoven.
Sexta-feira está a ser um dia fantástico.
Adenda
Não costumo fazer adendas aos meus posts. Suponho que neste blog nunca tal aconteceu.
Hoje vou abrir uma excepção. Este post merece-a e exige-a. Na verdade, terminei-o ontem de forma súbita e extemporânea. As solicitações estavam a ser várias e simultâneas, e quer a minha atenção quer a minha concentração já não são o que foram. Foi assim que me passou, esqueceu, faltou a referência a dois aspectos/reparos relacionadas com a produção do programa.
O primeiro aspecto refere-se ao reduzido público figurante que compunha o cenário da manhã, em rotundo contraste com o que se passou na parte da tarde;
O segundo aspecto prende-se com o “logótipo” que tardiamente apareceu no canto superior direito dos monitores, “SOAJO”, uma vez que durante um tempo apreciável da emissão por lá permaneceu, imprópria e inadequadamente, “PENEDA”.
Não pretendo criticar quem quer que seja. As falhas acontecem, e só as tem quem faz, quem realiza, quem produz, quem está vivo. Os mortos é que não têm falhas. Todavia, se não critico também não posso deixar passar em claro, sem reparo, aquilo que considero poder ter sido melhor interpretado pela produção do programa. Um mínimo trabalho de campo seria suficiente para entender que a Peneda dista, fica a trinta quilómetros de distância de Soajo, com muita serrania de permeio.
Estou em crer, também, que muito voluntário se teria oferecido para apoio logístico. E para a figuração nem valerá a pena dizer que o excedente suplantaria as necessidades, conforme a participação da tarde demonstrou.
Quanto ao mais, confesso que o programa me agradou. Não o pude ver na íntegra, mas gostei do que vi.
Gosto sempre da minha terra.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

o estado da Nação

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Hoje houve debate sobre o estado da Nação na Assembleia da República.
Foi o último desta legislatura.
Manuel Pinho, ministro da economia, teve uma intervenção que (o) recordará.




Sobre este incidente o público escreveu:

02.07.2009 - 17h59 Maria José Oliveira, Nuno Simas
Incidente no debate do estado da Nação
Manuel Pinho faz chifres para bancada do PCP

"É o caso do debate do estado da Nação de hoje. Tudo porque o ministro da Economia, Manuel Pinho, fez um gesto, colocando os dedos indicadores na testa, a imitar chifres, dirigindo-se a Bernardino Soares, líder parlamentar do PCP. Manuel Pinho reuniu-se, entretanto, com os ministros Augusto Santos Silva e Pedro Silva Pereira numa das salas do Governo, mas nada se sabe sobre o encontro.
.............
Manuel Pinho admitiu o excesso – “excedi-me” – e abandonou a Assembleia. Questionado pelos jornalistas, ao abandonar o hemiciclo, Manuel Pinho reconheceu tratar-se de “um gesto desesperado”, mas recusou que o incidente seja suficiente para deixar o Governo. “Absolutamente, sobretudo enquanto safar postos de trabalho”, disse Pinho, que lembrou o esforço – “passámos muitas noites sem dormir” – para tentar “salvar” postos de trabalho nas minas de Aljustrel.

Bernardino Soares afirmou que este caso “é uma triste marca para o debate da Nação”. Depois do pedido de desculpas de Santos Silva, o deputado comunista não falou a Pinho que se terá limitado a acenar com a mão em pedido de desculpas".

Manuel Pinho apesar das desculpas pedidas acabaria demitido.

domingo, 28 de junho de 2009

Vila de Soajo

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A Assembleia da República aprovou a 12 de Junho de 2009, por unanimidade, a elevação da minha terra natal à categoria de vila. Eu, mais por razões afectivas do que propriamente de natividade, há muito que a elevei à condição de “cidade”, conforme facilmente se admitirá pelo nome deste blogue.
Mau grado, nunca ali pude ter o contentamento do exercício do mais merecido direito de cidadania. Fui, como muitos outros seus filhos, compelido a fazê-lo noutros lugares e paragens. Não a malquero por isso, bem pelo contrário. É na renovação e inflação das exigências que lhe vamos colocando, e que vão muito para além da sua bucólica, tranquila e natural beleza paisagística, que devemos encontrar as razões desta incoerente desventura. São as imparidades sociais, ao nível das ambições, desejos, e referências, e não os elementos naturais, desde a fauna e flora, à oro e hidrografia, as falhas que provocam tais idiossincrasias. E se a natividade até pode ter sido ali forçosamente fortuita, a afectividade jamais o poderá ser. Esta é voluntária, é desejada.

Foram mais 21, as povoações que nesta data tiveram tal distinção, das quais destaco, por similitude, a vetusta, fidalga e vizinha, Castro Laboreiro. Nós, Soajeiros e Castrenses, fizemos, por agora, o pleno no distrito de Viana do Castelo. Foi o regresso a um estatuto perdido em 1852, que se espera não volte a repetir. O evento mereceria, por isso, alguma análise e avaliação. Não vou fazê-las por ter pouca informação, de natureza quer material, quer formal quer orgânica, relacionada com o acontecimento. Há, todavia, duas reflexões que não me coíbo de fazer, já que referidas com as imparidades humanas supracitadas. É que independentemente da posse das formalidades, ou exigências, de ordem burocrática necessárias para a obtenção do estatuto ora reatribuído, importará aquilatar da consistência e consequências das mesmas.
Aqui e agora, apreciaria fazer considerações no sentido da tranquilidade e sossego, da satisfação e do júbilo, enfim do orgulho. Infelizmente, parece-me mais sensato optar por alguma prudência e parcimónia, levando em boa conta o que na imprensa se grafa.

Segundo escreve o jornal público:

“Para ser elevada a vila uma localidade tem de ter mais de 3.000 eleitores em aglomerado populacional contínuo e pelo menos metade dos seguintes estabelecimentos: posto médico, farmácia, casa do povo, dos pescadores, de espectáculos, centro cultural ou outras colectividades, agência bancária, transportes públicos colectivos, estação dos correios, estabelecimentos comerciais ou de hotelaria e uma escola pública.”

Transpondo estes preceitos para a nossa realidade Soajeira, sobram-nos motivos para experimentada cautela e redobrada dedicação, como forma de preservação da realidade actual senão da obtenção de mais e melhor para o futuro.
Tomemos os seguintes exemplos:
- centro social de dia, adiado ad eternum;
- correio, em e com situação assaz indefinida;
- escolas, com frequência muito escassa e imprevisível;
- jardins e sanitários públicos, indeterminadamente adiados;
- transportes rodoviários municipais, substantivamente simbólicos;
- diminuição da população residente de forma continuada e acelerada.
- banca, só temos actualmente dois dias por semana, quando já foram cinco;
- banda larga grátis, “hot spots”, pelo menos no Eiró, Escola/Espigueiros e Casa do Povo, só em desejos.
E são apenas alguns exemplos de fragilidades e até de retrocessos, que bastam, para que A NOSSA VILA DE SOAJO não suavize na exigência de continuar a pugnar junto das entidades respectivas e competentes a sua observância. Sob pena deste acontecimento, desta elevação a Vila, se transformar numa ocorrência de pouco valor, senão mesmo vazia.

A categoria administrativa pouco ou nada significará, se não for acompanhada de melhor qualidade de vida para a população em geral, e especialmente para os mais idosos e para os mais jovens.
Aos mais velhos temos o dever de lhes proporcionar a recordação do seu passado, de difícil e árduo trabalho, em amena e digna tranquilidade; e aos mais novos devemos retribuir-lhes o “devaneio” de realizarem por aqui a sua vida, se assim o desejarem, em condições material e socialmente ajustadas.

Aparentemente faz sentido celebrar a efeméride com festa.
Fará também todo o sentido pontuar as alegrias com cautela, análise e avaliação, persistindo determinados e vigilantes na prossecução da conquista de oportunidades que nos conduzam a um futuro melhor e mais consistente, e que impeçam o regresso a um qualquer 1852.

sábado, 30 de maio de 2009

Kim-II Sócrates

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Público - 29.05.2009 - 11h21 Eduardo Cintra Torres
TVI - Queluz de Baixo debaixo de fogo

Transcrevo três parágrafos e coloco o link para este artigo de opinião ontem estampado no jornal público.
Em tempo e com tempo a ele voltarei com as minhas próprias considerações.
.....
"Entretanto, o Jornal Nacional de 6ª motivou 48 páginas à ERC, divididas por um relatório da Unidade de Análise de Media e uma deliberação do Conselho Regulador. Ambos os documentos estão construídos do primeiro ao último parágrafo para condenar a estação que tem a intolerável ousadia, no reino de Kim-Il Sócrates, de escrutinar sistematicamente os “casos” do grande líder. O relatório da Unidade de Análise da ERC faz decorrer conclusões subjectivas da análise objectiva das notícias que realizou. Poderia ter tirado as conclusões contrárias da mesma análise. Daí que relatório e deliberação sofram do enviesamento que atribuem à TVI.

Quanto ao rigor, as notícias da TVI analisadas pela ERC apenas falhavam em rigor linguístico e nalgum aspecto secundário sem gravidade; não foram apontadas falhas de rigor factual. Quanto ao jornalismo opinativo, ele é hoje prática generalizada em quase toda a imprensa e em todos os tipos de notícias de todo os telenoticiários, sejam sobre bola, justiça ou política. Não cabe à ERC condenar um órgão de informação por uma prática generalizada de todos e aceite pela sociedade. Não havendo factos enviesados, o jornalismo opinativo não é uma prática condenável por um regulador, tanto mais que o Jornal Nacional de 6ª é um espaço próximo do que os semanários de fim de semana em papel sempre pretenderam ser. Pode ser criticável (o que é diferente de condenável), mas o regulador não tem que criticar o jornalismo opinativo sob risco de se imiscuir na liberdade profissional dos jornalistas e, por extensão, na liberdade de informação e de expressão, o que é mais um atentado da ERC contra as liberdades, usando argumentação subjectiva.

Condenou uma linha editorial que não agrada ao governo por não agradar ao governo. A ERC cumpriu de novo a sua função pró-governamental. Sem surpresas, portanto. Já ninguém lhe dá crédito. Mas há uma nota grave no caso: o membro do Conselho Regulador que votou contra a deliberação afirma que os ofícios que a ERC enviou à TVI “contêm afirmações genéricas e abstractas, o que impossibilitou o operador de contraditar os factos que lhe foram atribuídos" (PÚBLICO online, 28.05). “Houve desrespeito do princípio do contraditório”, afirma. Isto é, poderemos estar perante um caso de desonestidade processual."

Porque será que as rádios não passam a música dos Xutos que critica Sócrates ?

quarta-feira, 27 de maio de 2009

o arlequim da (des)ordem I I

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João Miguel Tavares escreveu ontem no DN o texto que se segue.
A constatação da necessidade deste artigo, bem como da defesa da liberdade de imprensa e de opinião, em Portugal e no séc. XXI, aparece como demasiado agoirenta:

Quem se mete com o PS leva”, Jorge Coelho;
Eu gosto é de malhar na oposição”, Santos Silva;
Há medo no PS”, Henrique Neto.

Para além destes, os exemplos e casos são por demais, pelo que me dispenso de citar outros.
Transcrevo o texto e coloco o link para o jornal.

Quem tem medo de Manuela Moura Guedes?

A peixeirada entre Manuela Moura Guedes e António Marinho Pinto não foi um momento edificante, é certo. Mas convinha que ela não fosse aproveitada para alimentar o desejo mal escondido de muito boa gente: acabar de vez com o Jornal Nacional de sexta-feira e enviar Moura Guedes de volta para a prateleira da TVI. Os defensores do Portugal compostinho certamente aplaudiriam a decisão, com o argumento de que "aquilo não é jornalismo". Só que o País ficaria a perder. Porque apesar do sensacionalismo e da ocasional falta de rigor do seu Jornal Nacional - que deve ser apontado quando ocorre, se necessário aos gritos, como fez Marinho Pinto -, há ali um desejo de incomodar, de denunciar, de escarafunchar, de meter o nariz nos podres do poder que a comunicação social portuguesa precisa como de pão para a boca.
Manuela Moura Guedes não é a pivot com que eu mais gosto de acompanhar o jantar. No entanto, ainda sei distinguir o estilo do conteúdo. O facto de ela despejar o frasco da demagogia por cima de todos os textos que lançam as peças, sempre com aquele tonzinho de "isto é tudo uma corja", não significa que as notícias do Jornal Nacional, em si, não sejam relevantes. Hoje em dia nós aguardamos pelo telejornal de Moura Guedes como no tempo do cavaquismo aguardávamos pelo Independente. Ora, esse "deixa cá ver de que forma é que eles vão estragar o fim-de-semana ao primeiro-ministro" é de uma enorme importância num país como Portugal, cuja cultura democrática está ligeiramente acima da da Venezuela e o Governo tem um poder absolutamente excessivo sobre as nossas vidas.
Dir-me-ão que aquilo é desequilibrado e injusto. Muitas vezes, sim. Tal como o Independente. E para dirimir os excessos existem tribunais. O próprio Independente foi condenado em vários processos - mas o seu papel foi inestimável. É que o que está em causa não é a nossa identificação com aquele tipo de noticiário. É, isso sim, a defesa da sua existência num país onde o primeiro-ministro diz que um dia feliz é um dia em que o seu nome não sai nos jornais, lapso freudiano bem revelador do seu desejo de silenciar. As intervenções histriónicas de Manuela Moura Guedes estão à vista de todos, e por isso ela está sujeita a ser criticada da mesma forma que critica. O que não está à vista de todos - e por isso é bastante mais perverso - são os jornalistas que calam, que não arriscam, que se retraem com medo das consequências. O Jornal Nacional tem muitos defeitos, mas pelo menos tem uma independência e uma capacidade de incomodar que advém da mais preciosa das liberdades: a das empresas que têm sucesso, dão dinheiro, e não precisam dos favores do Estado. Em Portugal, infelizmente, isso é um bem raro. Convém proteger os casos que existem.

feira do livro

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Depois de vários anos no Pavilhão Rosa Mota, a Feira do Livro do Porto está de volta às origens. A Avenida dos Aliados recebe a 79º edição do evento de 28 de Maio a 14 de Junho, algo que deverá repetir-se até 2012.
À semelhança das edições anteriores, a Feira do Livro 2009 é organizada pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), contando com Avelino Soares como director.
Nos próximos quatro anos, a APEL espera obter apoio financeiro por parte da Câmara Municipal do Porto para organizar a Feira do Livro. Segundo a Lusa, a ajuda da autarquia “consistirá na comparticipação nos custos de transferência do evento num valor de 300 mil euros, a disponibilizar anualmente no montante máximo de 75 mil euros”.

 

Na avenida a menina continuará nua, mas vai ter muita companhia nestes 18 dias de duração do evento. Espera-se.
Esperam-se, de preferência, visitantes não nus, ou de bolsos não vazios.
Esperam-se.
Posted by Picasa

terça-feira, 26 de maio de 2009

o arlequim da (des)ordem

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Mais um excelente artigo de opinião que Mário Crespo e o jornal de notícias nos ofereceram ontem.
Sem mais, aqui ficam a transcrição e o link.
O desordenado
Ontem

António Marinho Pinto está para o PS de Sócrates como o estão Vitalino Canas, Augusto Santos Silva ou Pedro Silva Pereira. É um indefectível. Tal como Sócrates, Marinho Pinto vê em tudo o que o prejudica uma urdidura de travestis do trabalho informativo. Tal como Sócrates, o Bastonário dos Advogados vê insultos nos factos com que é confrontado. E reage em disparatado ultraje e descontrolo, indigno de quem tem funções públicas. Marinho Pinto na TVI foi tão sectário como Vitalino Canas ou Santos Silva e conseguiu o prodígio de ser mais grosseiro numa entrevista do que Sócrates foi na RTP e Pedro Silva Pereira na SIC. É obra. Marinho Pinto não tem atenuantes. Não trabalhou no Ministério do Ambiente de Sócrates e, que se saiba, não faz parte do seu núcleo duro. É pois de supor que não esteja vinculado ao voto de obediência cega que tem levado os mais próximos de Sócrates à defesa do indefensável, à justificação do injustificável e a encontrar razão no irracional. Não tendo atenuantes, Marinho Pinto tem agravantes. O Estado de direito delegou na Ordem dos Advogados importantes competências reguladoras de um exercício fundamental para a sociedade. O Bastonário tem que as exercer garantindo uma série de valores que lhe foram confiados pelos seus pares. O comportamento público do Bastonário sugere que ele está a cumprir uma bizarra agenda pessoal com um registo de regularidade na defesa apaixonada de José Sócrates e do PS. O que provavelmente provocou em Marinho Pinto o seu lamentável paroxismo esbracejante em directo foi a dura comparação entre as suas denúncias sobre crimes de advogados e os denunciantes do Freeport. Se a denúncia de irregularidades na administração de bens públicos é um dever, a atoarda não concretizada é indigna. O que o Bastonário da Ordem dos Advogados disse sobre o envolvimento dos seus pares nos crimes dos seus constituintes é o equivalente aos desabafos ébrios tipo: "são todos uns ladrões" ou "carrada de gatunos". Elaborações interessantes e de bom-tom, se proferidas meio deitado num balcão de mármore entre torresmos e copos de três. Presumo que a Ordem dos Advogados não seja isso. Nem sirva de câmara de eco às teorias esotéricas do Bastonário de que a Casa Pia foi uma Cabala para decapitar o PS ou que o Freeport é uma urdidura politico-judicial-jornalistica. Se num caso, um asilo do Estado com crianças abusadas fala por si, no outro, um mega centro comercial paredes-meias com a Rede Natura, tem uma sonoridade tão estridente como o grito de flamingos desalojados. A imagem que deu na TVI foi de um homem vítima de si próprio, dos seus excessos, do seu voluntarismo, das suas inseguranças e das suas incompetências. Marinho Pinto tentou mostrar que era o carrasco do mensageiro que tão más notícias tem trazido a José Sócrates. Fê-lo vociferando uma caterva de insultos como se tivesse a procuração bastante passada pelo Primeiro Ministro para desencorajar e punir este jornalismo de pesquisa e denúncia que tantas e embaraçosas vezes tem andado à frente do inquérito judicial. E a verdade é que sem o jornalismo da TVI não havia "caso Freeport" e acabar com Manuela Moura Guedes não o vai fazer desaparecer.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Alegados - I I

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O jornal correio da manhã publica hoje um artigo de opinião da jornalista Constança Cunha e Sá que não resisto, reverentemente, “sugar-lhe”.
Segue o link e o artigo, na integra:

19 Maio 2009 - 09h00
Causas e Consequências
É óbvio que não
À ideia de que tudo se pode fazer na sombra, junta-se a convicção de que o País se habituou ao pior e se conforma com qualquer situação.
Num primeiro momento, a Procuradoria-Geral da República garantiu, através de um comunicado, que não existiam quaisquer pressões sobre os magistrados que investigam o Freeport. Uns parágrafos à frente, usando de uma lógica especialíssima, anunciava um inquérito sobre essas pressões que não existiam. O facto, embora tenha levantado sérias dúvidas nalguns espíritos mais conspirativos, não foi suficiente para que se abrisse um inquérito à Procuradoria. Para todos os efeitos, num país de pequenos e grandes favores, tolhido por recados enviesados e conversinhas de bastidores, é natural que a palavra pressão se preste aos mais improváveis equívocos: como explicou Lopes da Mota, presidente do Eurojust, antigo secretário de Estado do PS, parceiro de Governo de Sócrates e de Alberto Costa, o que uns chamam uma pressão é, no entender de outros, nomeadamente no seu, algo habitual entre amigos que não tem dimensão pública nem merece averiguações.
É verdade que, como o próprio admitiu, na altura, ele se desdobrou numa série de iniciativas "privadas". Falou com os procuradores que tutelam o caso Freeport, deu-lhes conta dos desejos do primeiro-ministro, encontrou-se várias vezes com o ministro da Justiça e desenvolveu umas teses sobre os benefícios que poderiam advir de um súbito arquivamento do processo. Mas, aparentemente, tudo isto lhe pareceu fazer parte das suas atribuições enquanto presidente de um organismo europeu que coordena as investigações sobre esse mesmo caso, que, como se sabe, envolve o nome do engº Sócrates.
Tudo isto, por si só, já seria mais do que suficiente para se considerar que o dr. Lopes da Mota não tinha condições para continuar a exercer o cargo para o qual tinha sido nomeado. Agora que o inquérito deu azo a um processo disciplinar que revela indícios fortes de que foram feitas pressões sobre os magistrados em causa por parte do presidente do Eurojust, a permanência do dr. Lopes da Mota em funções mostra apenas o grau de impunidade que se atingiu entre nós. À ideia de que tudo se pode fazer na sombra, ao abrigo de qualquer denúncia, junta-se a convicção de que o País se habituou ao pior e se conforma com qualquer situação. Ao ponto do dr. Arnaut, mandatário do candidato do PS às Europeias, se sentir no direito de acusar publicamente os procuradores que se sentiram pressionados de "delação", como se a Justiça fosse uma espécie de Máfia obrigada ao dever do silêncio e às regras do compadrio. Alguém, no PS, se sentiu obrigado a tirar as devidas consequências destas declarações? É óbvio que não!
Constança Cunha e Sá, Jornalista

Alegados

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Mário Crespo escrevia ontem no Jornal de Notícias:

Alegados crimes e alegados inocentes

Um líder europeu disse-me que no passado a justiça em Portugal tinha a fama de ser lenta mas séria e que agora continua lenta, mas perdeu a imagem de seriedade.

As razões são muitas. O infame caso da Casa Pia mantém-se sem conclusão num processo que atesta a falência de todas as fases do sistema de justiça, da investigação ao julgamento.

A imagem no estrangeiro deste clássico da pedofilia é a dos poderosos portugueses que iam aliviar medonhos ímpetos sexuais em asilos do Estado e que continuam protegidos pelas delongas do sistema de justiça com intermináveis julgamentos e intermináveis recursos. Há mais. Os McCann estabeleceram, com a argúcia de uma máquina de relações públicas, uma ligação entre uma suposta propensão portuguesa para a pedofilia e o desaparecimento da filha num enredo extraordinário que envolve túneis na Praia da Luz, por onde a menina poderia ter sido levada sabe-se lá para onde, sabe-se lá por quem. Inverosímil esta urdidura? Nem por isso. Decorre directamente da incompetência com que o caso Maddie foi conduzido desde o princípio, e da insensibilidade bruta das autoridades em geral quando as transmissões em directo em várias línguas saíam da Praia da Luz, 24 horas por dia, levando ao Mundo uma imagem de ineficácia e bandalheira, entre almoçaradas bem regadas (que nas horas de serviço da Polícia são crime no Reino Unido), arguições injustificadas e perícias insuficientes.

Tudo isto constitui um study-case do que não deve ser feito numa investigação com aquele grau de melindre internacional, afectando uma indústria crítica para a economia do país. O deserto turístico em que se tornou a Praia da Luz atesta que estes erros se pagam. O golpe de misericórdia na imagem da justiça nacional vem agora com Lopes da Mota e a sua obstinação em manter-se no Eurojust, enquanto pesam sobre si gravíssimas suspeitas que ferem a essência da independência judicial e arrastam no processo o chefe de Governo e o ministro da Justiça. Este é também um study-case de nervo e desprezo pelos interesses nacionais. O Eurojust é um organismo da União Europeia que nas rotatividades comunitárias coube a Portugal presidir. O que lá se passa é directamente transmitido aos 27 estados que entre si lidam com crimes como a pedofilia, raptos de crianças, fraudes bancárias internacionais e corrupção. Para mal da auto-estima lusitana, para cada uma destas tipificações Portugal tem um contributo actual a despacho no Eurojust, com a agravante do nosso compatriota presidente estar alegadamente envolvido numa situação de alegada corrupção que alegadamente envolve dinheiro estrangeiro.

Por isso, para os seus pares no Eurojust, a esta hora certamente conhecedores das alegadas irregularidades e alegadas manipulações do sistema judicial, Lopes da Mota aparece, quanto muito, como um alegado inocente, aval insuficiente para representar a honorabilidade e ética de um Estado num organismo internacional que tem por missão assegurar a defesa colectiva desses mesmos valores.

A declaração de Cândida Almeida de que no lugar de Lopes da Mota também não se demitia não ajuda nada. É que se isto é cultura que se entranhou no Ministério Público, é bom recordar-lhes que por insensibilidade para as realidades terrenas o Marquês de Pombal, no século XVIII, expulsou os Jesuítas do chamado Noviciato da Cotovia, o esplêndido complexo de quintas e palácios onde hoje funciona a Procuradoria-Geral da República.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

1º de Maio

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Dia do Trabalhador
As duas centrais sindicais, CGTP e UGT, celebram hoje por todo o país sob o lema da defesa do emprego o 1.º de Maio, dia do trabalhador, com festa e protesto.
Este 1º de Maio ficará marcado pela reacção à calamitosa subida do desemprego que nos últimos meses se vem verificando. Dados ontem divulgados pelo Eurostat confirmam a tendência mais pessimista, embora já conhecida. No primeiro trimestre deste ano a taxa de desemprego terá subido meio ponto, chegando aos 8,4% (em dados não ajustados). Será um valor a rondar o meio milhão de pessoas, onde não se incluem nem estagiários nem formandos.
Acresce que o nível salarial em Portugal é, em média, muito baixo, pelo que uma redução de vencimentos, de que alguns já ousam falar, não parece acertada, nem admissível. Em contraponto, o leque salarial é dos maiores de entre os países da OCDE, o que desmascara a pilhagem que as classes mais favorecidas fazem às menos afortunadas, e prova a sua manifesta insensibilidade social.
Emprego precário, baixos salários, desemprego e insegurança são realidades dos tempos actuais que preocupam, e que devem fazer deste 1º de Maio um dia de reflexão, de luta e de união.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Monologando

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Foi uma viagem curta e rápida. Nos primeiros dias de Abril regressei por quatro ou cinco dias às minhas origens, à minha “pátria pequena”, à mítica terrinha soajeira.
A minha vida profissional distancia-nos, mas nunca nos separou.
É a sina e a saga de tantos de nós, seus filhos. Uns vão para terras bem longínquas e estranhas, ou estrangeiras, outros, apesar de tudo mais afortunados, teoricamente, ficam-se por mais perto, chegando por vezes a nem sair do país.
A separação da família e dos amigos, dos nossos cantinhos e caminhos da infância, da “macieira de todos nós” propriedade do “tio Joaquim”, do misterioso melro de bico amarelo na curva do caminho para a escola, é sempre dolorosa e muito cruel. O vídeo Soajo tempos de criança com a música do Rui Veloso ilustra-o!
É sempre com muito contentamento que regresso à minha terra natal, embora isso ocorra menos vezes do que aquelas que gostaria que acontecessem. No entanto, como sempre e em tudo na vida há excepções, e desta vez a principal razão da viagem era pouco interessante. Como diz o povo, “atrás de tempo tempo vem”; suponho ser assim que o adágio se diz.
Abril teve de início um tempo muito agradável, com muito calor e muito sol, mas também nos brindou logo em seguida com frio, chuva e neve nos Bicos e na Amarela. Vou procurar testemunhá-la aqui, a ela, à neve, juntando duas ou três fotografias que fiz no dia catorze, ao que me diz a minha câmara, pois já não me lembrava o dia exacto.
Entretanto, aqui fica a razão primeira deste post, a indiscrição de que coloquei ontem no you tube um vídeo com a música Soajo chula velha, que pode ser visto a partir deste link.
música: Soajo chula velha

sábado, 25 de abril de 2009

Comemorar Abril

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Abril em recortes:

1 - “Neste 25 de Abril, preocupa-me estarmos a construir a perfeita sociedade totalitária em plena democracia”
Pacheco Pereira “Público”, 25-04-209

2 - "Há uma Justiça para ricos e outra para pobres, uma Justiça para famosos e outra para anónimos, como há Saúde e Educação diferentes para ricos e pobres. Cumprir Abril é uma questão de justiça. Já não podemos esperar mais 35 anos".
Paulo Baldaia, "Jornal de Notícias", 25-04-2009

3 - Há 35 anos era a Revolução. Depois foi (é) que se sabe.
Diz Carlyle na sua "História da Revolução Francesa" que as revoluções são sonhadas por idealistas e realizadas por fanáticos, e quem delas se aproveita são os oportunistas de todas as espécies.
Manuel António Pina, "Jornal de Notícias", 24-04 2009

4 -

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Música, mas não só III

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Hoje dei por mim a ler a imprensa e deparei com este artigo de opinião do jornalista do DN, Pedro Lomba, que vem no sentido de outros, e do que também já aqui tenho escrito.
O artigo não me surpreendeu! Li-o, por conseguinte, com alguma desatenção e ligeireza. O que me surpreende é, indubitavelmente, a cada vez maior abundância e sintonia de textos que vêm opinando no mesmo sentido.
Respigo estes dois exemplos:

1 - "O primeiro-ministro acha que magistrados, polícias e jornalistas conspiram para lhe inventar passados"
Helena Matos, “Público”, 2009-04-23

2 - “Os portugueses, pelo menos os de hoje, com apenas duas a três décadas de experiência e democracia, prezam a liberdade. Conhecem os seus perigos. Receiam as ameaças. Sábio povo!”
António Barreto, “Visão”, 23-04-2009

Se a isto juntarmos o que podemos ler aqui, não restam dúvidas que o futuro que aí vem não parece trazer-nos o que quer que seja de bom.
Já ouvimos muitas histórias sobre o nosso povo, já muito se falou, disse e escreveu sobre as suas características sociais e morfológicas, sobre o seu espírito empreendedor e de iniciativa, sobre as suas competências laborais, sobre as suas capacidades produtivas e de poupança. Em suma, sobre a nossa capacidade de gerar riqueza. As opiniões são díspares. Não há consensos. No entanto, pacífica parece ser a ideia de que estamos em pé de igualdade com (todos os) outros povos! Nem melhores, nem piores, diferentes. Até já tivemos um período na nossa história de opulência e de liderança mundial, nos idos tempos dos Descobrimentos. Há quem diga ser este o elemento deliberativo. Argumenta-se que a abundância dos tempos dos Descobrimentos só foi possível por isso mesmo, porque a fomos buscar ao Exterior, fora das nossas fronteiras, já que o nosso território, solo e subsolo, é pobre.
A riqueza natural é realmente um factor importante, condiciona, mas não pode ser inibidora do progresso, de desenvolvimento. Ajuda, favorece o desenvolvimento, mas não o impede, não o impossibilita. E para o percebermos nada melhor do que nos socorrermos de alguns exemplos históricos. O Brasil tem imensos recursos naturais e continua a não ser um país de referência; em sentido contrário está o Japão que com fracos recursos se transformou num dos países mais desenvolvidos. Outros exemplos se podiam acrescentar. Então....
Os tempos de hoje são tempos de alguma confusão! São tempos de descrença e de desconfiança, sobretudo porque uma cambada de incompetentes, gananciosos, agiotas e larápios perpetrou verdadeiras pilhagens na finança mundial. Para rir aqui temos Subprime com humor.
Agora, equilibrar as finanças mundiais, e nacionais, reganhar a credibilidade institucional e motivar o povo não vai ser tarefa fácil. Não há milagres, e ninguém tem varinhas mágicas. Todos sabemos que vêm aí tempos difíceis. Que sejam difíceis para todos!
Acresce que Portugal tem uma distribuição da riqueza das mais díspares a nível europeu. Todos ouvimos, em qualquer lugar e a toda a hora, que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. E é um facto indesmentível, é estatístico. Compete ao Povo obrigar o Governo a combater esta brutal desigualdade, esta roubalheira, que já vinha de outros tempos mas que Sócrates agravou. Obriguemo-lo a cumprir uma melhor distribuição da riqueza criada. Só assim se deixará de ouvir que uns vão bem e outros mal, como diz e canta Fausto
Assim vai Portugal.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Música, mas não só II

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José Sócrates deu ontem, 2009-04-21, uma entrevista à RTP1.
Não vi nem ouvi, e não estou arrependido. Vi e ouvi depois, em vários noticiários, alusões, trechos, ou pedaços “disso”. A informação da RTP, estação pública que eu pago, que nós pagamos, com impostos e taxas, merece-me o mais profundo desprezo. Uma vez mais, jornalistas que são pagos a peso de ouro, fizeram questão de demonstrar porque é que o nível de audiências da dita estação tem andado, e anda, com excepção dos programas de futebol, pelas ruas da amargura.
Sócrates é o PM do meu país. Só isto devia ser suficiente para colher a minha atenção, o meu respeito, e até estima. Mas não! Nem sequer chega a ter da minha parte qualquer sentimento. Nem sequer animosidade ou desdém, apenas indiferença.
Durante o dia de hoje fui-me apercebendo que na tal hora e meia de propaganda gratuita de que Sócrates beneficiou, nada havia explicado, nada havia esclarecido, nada havia informado. Não explicou porque enganou os portugueses, dizendo que não aumentava impostos e aumentou de imediato o IVA 2 por cento, para depois o baixar 1; não esclareceu porque não cumpriu a prometida meta de criar 150 000 empregos; não informou o que é, e quem lhe move uma “campanha negra de difamação”.
Uma análise de conteúdo básica, primária, da “conversa em família” ontem acontecida na RTP1, revela-nos que Sócrates não disse uma única vez a palavra trabalhador, como no debate parlamentar de hoje bem lembrou o deputado Jerónimo de Sousa. São outros os amigos de Sócrates!
Sócrates anunciou hoje no debate parlamentar que irá passar a escolaridade obrigatória para 12 anos. A medida é positiva, embora já seja uma promessa de 2005. Vale mais tarde que nunca, pois tudo que possa melhorar e aumentar a educação do povo é desejável, louvável e imprescindível. Em matéria de educação não será este, todavia, o seu facto mais esforçado. Sócrates esforçou-se mais, interessou-se mais, empenhou-se mais em desvalorizar, desautorizar, desacreditar, diminuir os professores que qualquer outro PM da história da nossa democracia. A extensão dos malefícios que causou, e está a causar à educação será um dia conhecida. Hoje nas escolas não se ensina nem se aprende. A escola transformou-se num local de vícios, de indisciplina, de conflituosidade, de preguiça e de ignorância. Basta ler os jornais!
O nosso PM está envolvido numa série de episódios “tristes”, conhecidos e relatados: a história da licenciatura, a história da estação de tratamento de resíduos sólidos da Associação de Municípios da Cova da Beira, a história dos projectos de arquitectura da cidade da Guarda, o caso Freeport,....
O PS tem levado Sócrates ao colo, tem-se esforçado por segurar Sócrates. Os vários dirigentes socialistas desde Vitorino a Martins, a Canas, a Lello, a Soares,.... têm feito as mais insolvíveis e mágicas diligências, na difícil, convenhamos, arte de defender o indefensável. Até quando? Com que recíprocos estragos? Se nos lembrarmos do caso watergate......
Bem, mas isso aconteceu noutras paragens, noutros tempos, e com outros bem menos “sabidos” protagonistas.

Música com os gato fedorento e Rui Veloso.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Música, mas não só

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Os Xutos e Pontapés são uma das mais antigas bandas rock portuguesas.
Nunca fui um admirador entusiasta da banda, mas confesso que tenho no ouvido quatro ou cinco das suas músicas, a saber: não sou o único, contentores, o homem do leme, a minha alegre casinha, fim do mês……
A discografia dos Xutos sempre foi marcada por um cariz de intervenção e alerta social, notório e reconhecido. A canção “Sem eira nem beira”, que integra o novo álbum de originais da banda lançado na passada semana, está todavia a revelar-se um sucesso, de que nem a banda estaria à espera. Zé Pedro, o guitarrista dos Xutos, diz mesmo que é com alguma surpresa que assiste à euforia em torno da canção “Sem eira nem beira”.
Na minha modesta opinião, dada a conjuntura actual na sociedade portuguesa, a música tem mesmo pés para andar, que o mesmo é dizer, todas as condições para se tornar num sucesso.
Ajuíze por si, confira a letra, e ouça a música neste link.

I
Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou-bem
II
Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar/Despedir
E ainda se ficam a rir
Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor
III
Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir/Encontrar
Mais força para lutar...
IV
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer
V
É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir
Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar/A enganar
o povo que acreditou
VI
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar...
VII
(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder
VIII
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Há Petróleo Em Pisqueiras

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“A casa da saudade chama-se memória:
é uma cabana pequenina a um canto do coração.”
Henrique M. C. Neto

Um conto do 1º de Abril

Duarte Nuno acordou cedo. Alongou as pernas, esticou os braços e bocejou preguiçosamente.
A noite estava escura e pelos seus cálculos a manhã ainda tardaria. A mudança da hora que há quatro dias acontecera ainda lhe fazia alguma confusão. Os olhos continuavam fechados, teimando em não abrir, mas o sono já se fora. A cabeça era um remoinho de fantasias, sonhos, desejos e conjecturas, tão próprios da sua idade. Duarte era um jovem moreno, de cabelos compridos e penetrantes olhos castanhos. Tinha um bom desenvolvimento físico para a idade. Todos lhe davam mais do que os dezasseis anos, que afinal ainda iria completar no domingo a seguir à Páscoa. Na verdade conseguia mesmo aceder aos filmes para maiores de dezoito anos, num tempo de forte escrutínio de tais entradas. Confessava-o, vigorosa e briosamente.
De supetão descobriu-se, atirou com a roupa e saltou da cama. O rosto exibia um sorriso malandro e o sangue fervilhava-lhe nas veias, nas artérias, e em tudo que era sítio de passagem do mesmo. Sim, por aí também! Pensava na Maria Teresa. Lembrara-se do encontro que tinham acordado. Não podia chegar atrasado. Tinha de chegar a horas. Tinha de chegar primeiro que ela. Tinha de ser ele a esperá-la e não permitir que o contrário acontecesse. Duarte não pensava, devorava intenções. Na sua cabeça aconteciam, iam e vinham, os mais disparatados e desencontrados pensamentos. Duarte estava apaixonado! Duarte acreditava no primeiro amor, num amor único e eterno.
Lavou a cara de uma vez só e escovou freneticamente os dentes. Vestiu os jeans e a t-shirt que a mãe havia lavado para a missa do domingo, e pôs perfume pelo corpo todo. Fez tudo com o maior silêncio que lhe foi possível, não fossem os pais acordar e interrogá-lo sobre a razão de tal janotice e alvorada.
Maria Teresa era uma linda rapariga. Era a sua princesa. Era o sonho nos sonos de todas as suas noites. E dias! Fora já Deusa mística, espiritual, nos seus secretos orgasmos. Duarte só tinha olhos e pensamento para ela. E ela merecia. Era inteligente, alegre e meiga. Tinha uma elegância discreta e natural que combinava bem com o seu corpo delicado. Correspondia aos seus amores com contida emoção e sabido recato. Soube seduzi-lo, sabia incendiá-lo, saberia contê-lo?
“Havia um fogo a arder que não se via……”
Até quando estaria(m) disposto(s) a retardar a extinção desse fogo que o(s) consumia e atormentava?
Duarte queria sabê-lo. Queria saber porque se mortificava, ou o mortificava ela, tanto. Que força estranha era essa que lhe tirava o sono, que o adoentava. Estaria assim tão debilitado?
Por isso este encontro era para ele tão necessário.
Duarte chegou ao local combinado. Foi o primeiro a chegar, como fora seu desejo.
Isso lhe deu tempo para, de olhos fechados, pensar, congeminar, profetizar. Imaginou-a pelos céus juntamente com as outras estrelas. Sonhou-se no paraíso como e com outros bem-aventurados. Esperou por ela. Estava feliz. Diz-se que ninguém gosta de esperar, mas ele estava ali sem enfado, com gosto. E esperou. Por este amor faria tudo. Este amor levá-lo-ia ao fim do mundo! Com este amor esperaria pelo fim do mundo!
E esperou………Esperou……...
Maria Teresa não apareceu.
Maria Teresa emigrara para França, nesse madrugada,
com os pais e o irmão.
Duarte nunca chegou a saber se em Pisqueiras havia petróleo! Sabe, de certeza certa, que Pisqueiras mora ainda na sua "cabana pequenina" .
música da Galiza: maria soliña

segunda-feira, 30 de março de 2009

Opinião publicada

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Não resisti.
Tinha de partilhar este artigo de opinião.
Sei que nem sempre temos acesso aos jornais, a este ou àquele jornal, e por isso nos escapam ideias e pensamentos que merecem ser lidos e meditados. Penso ser o caso deste artigo de opinião que o jornalista Mário Crespo fez publicar hoje no JN.
Com a devida vénia transcrevo o link e o artigo.
Faço-o por motivos óbvios:
1 – o jornalista é um decano do jornalismo nacional e internacional, reputado e respeitado;
2 – todos os dias, em todo o sítio e a toda a hora, se ouve dizer que a corrupção está a afundar o País;
3 – diz-se à boca cheia que a justiça não funciona, não é atempada e não é cega;
4 - o Povo Português tem vindo a assistir, incrédulo, ao arquivamento de variadíssimos processos judiciais chamados de colarinho branco;
5 – o Povo Português tem sido confrontado com situações de não pronúncia, apesar de os suspeitos terem inclusivamente sido submetidos a prisão preventiva de vários meses;
6 - o Povo Português acredita cada vez menos na justiça do Estado;
7 - até onde estará o Povo disposto a suportar a demissão do Estado?

JN - 30 Março 2009
Opinião - Mário Crespo
"Porque é que o cidadão José Sócrates ainda não foi constituído arguido no processo Freeport?
Porque é que Charles Smith e Manuel Pedro foram constituídos arguidos e José Sócrates não foi? Como é que, estando o epicentro de todo o caso situado num despacho de aprovação exarado no Ministério de Sócrates, ainda ninguém desse Ministério foi constituído arguido? Como é que, havendo suspeitas de irregularidades num Ministério tutelado por José Sócrates, ele não está sequer a ser objecto de investigação? Com que fundamento é que o procurador-geral da República passa atestados públicos de inocência ao primeiro-ministro? Como é que pode garantir essa inocência se o primeiro-ministro não foi nem está a ser investigado? Como é possível não ser necessário investigar José Sócrates se as dúvidas se centram em áreas da sua responsabilidade directa? Como é possível não o investigar face a todos os indícios já conhecidos? Que pressões estão a ser feitas sobre os magistrados do Ministério Público que trabalham no caso Freeport? A quem é que o presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público se está a referir? Se, como dizem, o estatuto de arguido protege quem o recebe, porque é José Sócrates não é objecto dessa protecção institucional? Será que face ao conjunto de elementos insofismáveis e já públicos qualquer outro cidadão não teria já sido constituído arguido? Haverá duas justiças? Será que qualquer outro cidadão não estaria já a ser investigado? Como é que as embaixadas em Lisboa estarão a informar os seus governos sobre o caso Freeport? O que é que dirão do primeiro-ministro de Portugal? O que é que dirão da justiça em Portugal? O que é que estarão a dizer de Portugal? Que efeito estará tudo isto a ter na respeitabilidade do país? Que efeitos terá um Primeiro-ministro na situação de José Sócrates no rating de confiança financeira da República Portuguesa? Quantos pontos a mais de juros é que nos estão a cobrar devido à desconfiança que isto inspira lá fora? E cá dentro também? Que efeitos terá um caso como o Freeport na auto-estima dos portugueses? Quanto é que nos vai custar o caso Freeport? Será que havia ambiente para serem trocados favores por dinheiros no Ministério que José Sócrates tutelou? Se não havia, porque é que José Sócrates, como a lei o prevê, não se constitui assistente no processo Freeport para, com o seu conhecimento único dos factos, ajudar o Ministério Público a levar a investigação a bom termo? Como é que a TVI conseguiu a gravação da conversa sobre o Freeport? Quem é que no Reino Unido está tão ultrajado e zangado com Sócrates para a divulgar? E em Portugal, porque é que a Procuradoria-Geral da República ignorou a gravação quando lhe foi apresentada? E o que é que vai fazer agora que o registo é público? Porque é que o presidente da República não se pronuncia sobre isto? Nem convoca o Conselho de Estado? Como é que, a meio de um processo de investigação jornalística, a ERC se atreve a admoestar a informação da TVI anunciando que a tem sob olho? Será que José Sócrates entendeu que a imensa vaia que levou no CCB na sexta à noite não foi só por ter feito atrasar meia hora o início da ópera?"

Celebração

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Os vídeos “Soajo terra bonita” e “Soajo imagens e música” ultrapassaram as 5000 visitas, exibições ou visualizações.
Quando me propus a sua realização estava longe de imaginar que, peças tão pessoais e de âmbito tão pouco genérico e ecuménico, pudessem despertar interesse significativo. E não sei se despertaram! Mas uma coisa eu sei, e é o youtube que o mostra. Sei que no caso do “Soajo terra bonita”, com apenas 10 meses de WWW e para as condições referidas, mais de 5000 visualizações se não envaidecem também não envergonham.
O “interesse” residirá fundamentalmente nas palavras-chave como pelourinho, espigueiros, parque e barragem, e também na grandeza das nostálgicas recordações dos meus conterrâneos.
As palavras-chave assumem importância relevante nas pesquisas feitas na Net, em especial em sites de pesquisa como o Google, como pacificamente se aceitará.
Quanto às recordações dos meus conterrâneos estarão sempre relacionadas com o património colectivo que herdamos, com as memórias que partilhamos e com a afectividade que nos aproxima. Acredito saber contabilizar a sua monta! Sobre a qualidade dos vídeos nunca eu tive dúvidas, uma vez que sou amador, neófito na matéria, e “realizador” nas horas vagas sem pretensões de qualquer tipo. Acresce que foram feitos a partir de elementos quase sempre antigos e pessoais, sem quaisquer tratamentos ou cuidados especializados.
Foram fruto de ocupação de tempos livres e tiveram o propósito duma partilha singela.
Se com eles, ou por eles, nos pudermos aproximar, divertir e comunicar, isso sim me envaidece.
E por isso me agrada e alegra convidar-vos para esta celebração, para este brinde, onde por ser eu a fazê-lo sou também eu a demandar e a decretar:
“ Sejam Felizes”.
Prometo que outros vídeos, e seguramente outros brindes, se seguirão, nas mesmas condições e com os mesmos objectivos.
música: valentim por Amália

domingo, 29 de março de 2009

Onde Abril nos levou!

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PM – Sócrates - acusado de corrupção na imprensa.
Notícia avançada pela TVI (Sexta - 27.03.2009 - 20h21)
Vários outros órgãos de comunicação deram algum relevo a este episódio nada dignificante para o actual PM, como já se está a ver com as vaias que teve de ouvir no CCB e num jantar comício em Santa Cruz.

O tema pode ser desenvolvido por quem queira saber mais nos links abaixo para os jornais correio da manhã e público.

- Correio da manhã:
“É corrupto”, diz Smith

- Público:
Freeport: Smith afirma em DVD na posse da polícia inglesa que Sócrates “é corrupto”.
Charles Smith, sócio da consultora Smith & Pedro, contratada para tratar do licenciamento do Freeport de Alcochete, diz claramente, num DVD que está na posse da polícia inglesa e que foi hoje divulgado pela TVI, que José Sócrates “é corrupto” e que terá recebido, por intermédio de um primo, dinheiro para dar luz-verde ao projecto do “outlet”.

Sócrates bem se tem afadigado em comunicados, declarações, acusações e insinuações.
Já não colhem! Manter o cargo, mantê-lo no cargo, começa a ser penoso para ele, difícil para o PS, nocivo para o País, e intolerável para o Presidente da República.
Os discursos da boa e má moeda não estão assim tão longe no tempo!
E o que é mais grave, é que o país está cada vez pior, apesar do apertar de cinto a que fomos e estamos a ser sujeitos, com todo o cortejo de sacrifícios daí decorrentes.
Na economia a recessão é factual, e os salários são cada vez mais curtos; a saúde está pela hora da morte, do sistema nacional de saúde, curiosamente criado pelo PS, já pouco ou nada resta; a educação é considerada um desperdício e cada vez se lhe pretendem afectar menos meios, grassa a ignorância, a imbecilidade, a displicência, a indisciplina, a desresponsabilização, e a impunidade; o achincalhamento infligido aos professores já começou a dar dividendos; o emprego está no desemprego; o nível da carga fiscal já nos leva 139 dias de trabalho (4 meses e 19 dias), só para pagar impostos directos, excluem-se os indirectos, as taxas e as multas.
Eu sei que estamos atravessando uma crise mundial grave. Eu sei que fomos apanhados por um criminoso turbilhão financeiro externo, que explodiu em várias fileiras e para todos os pontos cardeais. Mas, não havia necessidade de lhe acrescentar os birrentos, mesquinhos, arrogantes, presunçosos e acéfalos erros de casting que tão despudoradamente Sócrates lhe acasalou, e que tanto inflacionaram esta desventura porque agora estamos a passar. Havia?
Responda quem saiba, queira e ou possa.
Ou terá sido para distrair os indígenas, precisamente, destes “rabos-de-palha” por explicar, ou sem explicação, que vão do jocoso episódio da licenciatura, … ao mais formal denominado de Caso Freeport.
A pressão sobre os magistrados para o arquivamento é ignóbil e terceiro-mundista!
Sinto-me: apreensivo!
Música: para melhor está bem está bem, para pior já basta assim.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Dia do Pai

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Hoje, dia 19 de Março de 2009, comemora-se o dia do pai.
Foi a minha filha que mo lembrou, quando ontem à noite nos desejávamos as boas noites, com a firme recomendação de não me esquecer do meu pai e seu avó paterno. Estou em crer que ela estava, também, a não querer “comunicar-me” algo mais, algo perceptível na sigilosa cumplicidade do irmão, que vislumbrei pelo canto do olho.
Ela sabe que eu sou “distraído” no que refere a estas realidades convencionais. Costumo ser eu a definir-lhes a solenidade e a importância que merecem, especialmente se com isso não desarmonizo as minhas relações. Todavia, aqui também se aplica o velho adágio popular que diz: “em Roma sê romano”. Vai daí, cá estou.
Estou, inclusivamente, com um sentimento de inevitável e dupla obrigação.
Aquela obrigação típica e simbólica de agradecimento e elogio, que enfatiza as reais e virtuais qualidades dos nossos progenitores. Aquela que os diz sempre vigilantes, fortes, empenhados, justos e amigos. A que os considera, em síntese, os melhores e os mais sacrificados do mundo, prescindindo de qualquer recompensa. Obrigação simpática!
E uma outra obrigação, esta bem subjectiva, pessoal. E porque assim é, tem que ver e haver connosco, e só connosco. Em razão desta privacidade, apenas direi que fui, e sou, um filho feliz, que estou feliz. Estou feliz porque o meu pai, está idoso, está cansado e está doente, mas está na minha companhia. E nem sempre assim foi. Tempo houve em que me senti órfão. A minha terra, o meu Soajo, é terra de emigrantes, e o meu pai também experimentou o duro trabalho noutras pátrias. Como canta Vitorino, e que bem canta, “somos um povo de ciganos, anda sempre alguém por fora”. Com ele presente posso fruir o privilégio das suas opiniões, dos seus conselhos, que nem sempre elejo mas sempre ouço, e sobretudo da sua experiência. Posso sentir-lhe a presença, ouvir-lhe a voz, encostar-lhe o ombro, e sobretudo podemos caminhar lado a lado. Infelizmente, cada vez menos e mais espaçadamente, em função da sua idade avançada e doença. Congratulo-me por este privilégio, que certamente será mais afectivo que longo, e por isso faz todo o sentido este meu reconhecimento, neste dia. Obrigação genuína.
Ofereço-te pai, este vídeo no Youtube, tempos de criança, que ouso desejar partilhemos, especialmente com quem queira aceitar os nossos ideais, e valores, e práticas conducentes à melhor das convivências entre pais e filhos de todo os tempos e lugares.
Tempos de criança, porque “o melhor do mundo são as crianças”.
Imagens de Soajo com música de Rui Veloso.
música: é triste ser-se crescido.